Aula 32/2011 – OS SETE PEDIDOS – PARTE II
32- OS SETE PEDIDOS – PARTE II
(Itens 2828 a 2845 do Catecismo da Igreja Católica – Aula 65)
“O pão nosso de cada dia nos dai hoje” -: este pedido nos mostra a confiança que devemos ter em Deus Pai. Mateus nos indica que “Ele faz nascer o sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre os justos e os injustos” (Mt 5, 45). Ele também dá a todos os seres vivos “o alimento a seu tempo” (Sl 104, 27). Jesus nos ensina a fazer este pedido, que reconhece como Deus é bom para além de toda a bondade. Lembremos também que a palavra “nosso” significa que pedimos para todos. O Pai que nos deu a vida não poderia deixar de nos dar o alimento necessário a esta vida. Jesus nos ensina também que aos que procuram o Reino e a justiça de Deus, tudo será dado por acréscimo. Nada nos faltará se não faltarmos a Deus.
A existência daqueles que passam fome, entretanto, mostra uma outra face deste pedido. O drama da fome no mundo convoca os cristãos que rezam o Pai Nosso para uma ação efetiva em relação a estes irmãos, mostrando a sua solidariedade para com os menos afortunados, que muitas vezes não tem o que comer, não por culpa de Deus, mas por culpa das estruturas injustas da sociedade humana, onde alguns tem mais do que precisam e outros (muitos) não tem nada. Por isso a predileção de Jesus pelos pobres e pequeninos. Lembremos aqui a parábola do pobre Lázaro (Lc 16, 19 – 31).
“Reza e trabalha” dizia São Bento; “Rezai como se tudo dependesse de Deus e trabalhai como se tudo dependesse de vós”, ensinava Santo Inácio de Loiola. Tendo realizado nosso trabalho, o alimento fica sendo um dom de Deus e convém pedi-lo dando graças a Ele.
Este pedido não fica apenas na necessidade do alimento material. “Nem só de pão vive o homem, mas de tudo aquilo que procede da boca de Deus” (Dt 8, 3; Mt 4,4). Isto nos recorda que a Palavra de Deus tem que ser observada e espalhada pelo mundo, a fim de que a fome espiritual e a ausência do Evangelho não levem o mundo a cair no pecado e na injustiça. A Eucaristia é nosso pão de cada dia, alimento para a alma. Ela nos dá a força para nos unirmos a Deus e aos irmãos.
“Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos tem ofendido” -: este pedido parece surpreendente. Se comportasse apenas o primeiro item da frase – “Perdoai as nossas ofensas” – seria até compreensível para nós, que nos habituamos apenas a tudo pedir, mas somos muito lentos em conceder. Mas, de acordo com o segundo item da frase, nosso pedido não será atendido a menos que tenhamos antes correspondido a uma exigência. E esta exigência quer de nossa atitude o mesmo perdão aos outros que pedimos para nós. Esta é a justiça de Deus.
Quando pedimos a Deus o perdão de nossas ofensas, nós nos colocamos no papel do filho pródigo e nos reconhecemos pecadores diante dele, assim como o publicano do Evangelho (Lc 18, 13). O pedido mostra também que confiamos na misericórdia de Deus e que nossa esperança é firme, porque em Jesus, seu Filho, “temos a Redenção e a remissão dos pecados” (Cl 1, 14; Ef 1, 7). E o sinal mais evidente de que Deus perdoa sempre é encontrado nos Sacramentos da Igreja.
Mas este imenso mar de misericórdia não pode nos ser concedido enquanto não tivermos perdoado aos que nos ofenderam. Não podemos dizer que amamos a Deus, que não vemos, se não amamos o irmão que vemos. Em resumo: “Se não perdoarmos, não seremos perdoados”. Que esta frase nos sirva de advertência.
Entretanto, é muito comum ouvirmos e dizermos “Eu não sou perfeito, não sou santo”. Se procurarmos em Mt 5, 48, lá encontraremos uma frase de Jesus: “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” e em outra frase, Jesus adverte: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 36). Além do mais, Jesus ainda mostra que, sem o nosso perdão aos que nos ofendem, jamais seremos perdoados por Deus: “Dou-vos um Mandamento novo: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 13, 34). Assim adquirem vida as palavras de Jesus sobre o perdão. A parábola do servo desumano (Mt 18, 23 – 35) termina com estas palavras: “Eis como meu Pai celeste agirá com vocês, se cada um de vocês não perdoar, de coração, ao seu irmão”.
A oração do Senhor chega até ao perdão aos inimigos. Lembremo-nos das palavras de Jesus no seu martírio de cruz: “Pai, perdoai-os, pois não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). Não há limite nem medida a esse perdão que Jesus nos pede. Tratando-se de ofensas (“dívidas” (Mt 6, 12) ou “pecados” (Lc 11, 4), de fato, somos sempre devedores.
Deus não aceita os pedidos daqueles que não observam o perdão integral. Pelo contrário, Ele ordena que, em primeiro lugar, nos reconciliemos com o nosso irmão, para depois nos apresentarmos diante dele. Para Deus, o mais perfeito de nossos deveres é aquele que cultua a nossa paz, a nossa concórdia e a nossa unidade no Pai, no Filho e no Espírito Santo.