Aula 28/09/20 – Desceu à Mansão dos Mortos
ESCOLA VIVENCIAL DO GED DE PIRACICABA – 2020
“DESCEU À MANSÃO DOS MORTOS”
28/Setembro/2020
Cristo desceu aos infernos -: O Novo Testamento afirma que “Jesus ressuscitou dentre os mortos” (At 3, 15; Rm 8, 11; 1Cor 15, 20) e isso pressupõe que, no período anterior à Ressurreição, Ele tenha ficado na morada dos mortos. Também a vigília pascal reza que “Cristo, teu Filho, que retornado dos mortos, brilhou sereno para o gênero humano e vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém”. A pregação inicial dos apóstolos dá esta sentido à descida de Jesus aos infernos: Jesus conheceu a morte como todos os seres humanos e com sua alma esteve com eles onde moravam os mortos. Mas foi para lá como Salvador, levando a Boa Nova para os que lá estavam aprisionados.
A morada dos mortos para a qual Cristo desceu, é denominada pelas Escrituras como “Infernos”, “Hades” (grego) ou “Sheol” (hebraico). Os que lá se encontram estão privados da visão de Deus. Este é, realmente, o estado de todos os mortos, maus ou justos: estão à espera do Redentor. Isso não significa que a sorte deles seja idêntica, como Jesus mostra na parábola do pobre Lázaro, recebido “no seio de Abraão” (Lc 16, 22-26). São precisamente estas almas santas, que esperavam seu Redentor, que Jesus libertou ao descer aos infernos. Jesus não desceu aos infernos para ali libertar os condenados nem para destruir o inferno da condenação, mas para libertar os justos que haviam vivido antes de seu aparecimento na terra.
Portanto, é necessário que todos compreendamos que Jesus libertou as almas dos justos, sendo que os condenados continuaram a sofrer a sua pena eterna, que consiste na ausência da presença de Deus Pai. Quando Jesus se refere, por diversas vezes, que ali (no inferno, também nomeado por Ele de “Geena”), haverá “choro e ranger de dentes”, isso é, na realidade, a pena dos condenados, pois uma alma criada por Deus, uma vez libertada pela morte de seu corpo terreno, anseia e necessita voltar para Deus. Condenada, esta alma vagará para sempre num estado de desespero e aflição, privada daquilo que precisa desesperadamente. Esse estado é aquilo que a Bíblia chama de “inferno”. É o fogo do desespero.
Antes de prosseguirmos, é necessário que compreendamos que a Bíblia coloca termos terrenos para que possamos entender, dentro de nossa compreensão humana, as coisas que se passam no plano espiritual. Quando a Bíblia diz “desceu” aos infernos, isso não significa que o inferno esteja abaixo de nós, nem que “subiu” aos céus significa que o Paraíso esteja acima de nós. Tanto o céu quanto o inferno são “estados” da alma, não “lugares” para onde se vai após a morte. Também Jesus, quando se referia ao “fogo do inferno”, queria dizer que esse fogo significava o desespero da alma privada eternamente da visão de Deus.
Outra coisa que precisamos saber é que, no inferno, estão também o diabo e seus anjos caídos. É terrível ter que conviver eternamente com eles, e de que maneira isso acontece, não nos foi revelado, mas podemos fazer uma ideia, ainda que incompleta, de quanto isso deve ser desesperador.
A missão final de Jesus -: a descida de Jesus aos infernos é, portanto, o cumprimento do Plano divino de Deus. É a última fase da missão messiânica de Jesus, contida nos três dias entre a Sua morte e a Sua Ressurreição. Todos aqueles que Jesus libertou dos infernos, desde o início até o final dos tempos se tornaram e se tornarão participantes do Reino de Deus.
Cristo desceu, portanto, às profundezas da morte a fim de que “os mortos ouçam a voz do Filho do Homem e os que a ouvirem vivam” (Jo 5, 25). Como explica São Paulo em sua carta aos hebreus, Jesus “destruiu pela morte o dominador da morte, isto é, o Diabo, e libertou os que passaram toda a vida em estado de servidão pelo medo da morte” (Hb 2, 14-15).
Uma antiga homilia destinada ao Sábado Santo condensa toda esta fase da vida, morte e Ressurreição de Jesus, quando reza o seguinte: “Um grande silêncio reina hoje na terra, um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio porque o Rei dorme. A terra tremeu e acalmou-se porque Deus adormeceu na carne e foi acordar os que dormiam desde séculos. Ele vai procurar Adão, nosso primeiro pai, como uma ovelha perdida. Quer ir visitar todos os que se assentaram nas trevas e à sombra da morte. Vai libertar de suas dores aqueles dos quais é filho e para os quais é Deus: Adão acorrentado e Eva com ele cativa. ‘Eu sou teu Deus, e por causa de ti me tornei teu filho. Levanta-te, tu que dormes, pois não te criei para que fiques prisioneiro do inferno. Levanta-te dentre os mortos, pois Eu sou a Vida dos mortos”.
Resumindo -: ne expressão “Jesus desceu à mansão dos mortos” a nossa confissão de fé diz que Jesus morreu realmente e que, pela sua morte por nós, venceu a morte e o Diabo, o “dominador da morte”. O Cristo morto, na sua alma unida à Pessoa Divina, desceu à morada dos mortos e abriu as portas do Céu aos justos que o haviam precedido. Esta é a nossa fé, e que nela permaneçamos até à morada final. Amém.