Aula 28/09/15 – Getsêmani
GETSÊMANI
28/Setembro/2015
A caminho do monte das Oliveiras -: “Depois de terem cantado o Salmo, saíram para o monte das Oliveiras” (Mt 26, 30; Mc 14, 26). Com estas palavras, Mateus e Marcos concluem suas narrativas da Última Ceia. Terminada a refeição, Jesus e os discípulos rezam o Salmo e saem da cidade, pela noite, a caminho do monte das Oliveiras. É interessante notar que, ao contrário dos outros dias daquela semana, Jesus não foi para Betânia (apenas a 3 km de Jerusalém), mas permaneceu nos arredores da cidade. A lei judaica obrigava a todos os peregrinos permanecerem na cidade durante a Páscoa, mas os limites da cidade tinham sido ampliados para permitir que uns números muito grandes desses peregrinos, não encontrando acomodações na cidade, pudessem ficar nos arredores, fora dos muros, sem descumprir a lei. Jesus observou a norma, mas dessa maneira vai, conscientemente, ao encontro do traidor e da hora da sua Paixão.
Getsêmani -: “E foram a um lugar cujo nome é Getsêmani, e Ele disse aos discípulos: Sentai-vos aqui, enquanto vou orar” (Mc 14, 32). Naquele tempo, encontrava-se na encosta lateral do monte das Oliveiras, à esquerda de quem olha o monte a partir de Jerusalém, uma quinta que continha um lagar onde eram espremidas as azeitonas do lugar. Este lagar dava à quinta o seu nome, Getsêmani (“prensa de azeite”). Hoje em dia, o local está quase desaparecido, dele restando apenas uma área de cerca de 80 m2., onde ainda se encontram oliveiras descendentes daquelas do tempo de Jesus. Muito perto, havia uma grande caverna natural, que podia dar a Jesus e aos demais, um abrigo seguro para passar a noite. Essa caverna foi demolida no século III ou IV, e sobre ela construiu-se uma igreja, que, no passar dos tempos, foi à ruína. Redescoberta por frades franciscanos no início do século XX, construiu-se no lugar (em 1924) a atual Igreja da Agonia, que contém a rocha sobre a qual, segundo a tradição, Jesus orou.
Trata-se de um dos lugares mais veneráveis do cristianismo. Aqui Jesus experimentou a solidão extrema, toda a tribulação de ser homem. Aqui, o abismo dos pecados e de todo o mal penetrou no mais fundo de sua alma. Aqui, foi Ele assaltado pelo horror da morte iminente. Aqui beijou-o o traidor, e aqui todos os discípulos o abandonaram. Mas aqui, Ele se entregou por nós.
A Agonia -: Jesus, tendo consigo por perto os três discípulos mais íntimos (Pedro, Tiago e João), começou a orar. Os três discípulos, após a refeição da Páscoa, começaram a ser dominados pelo sono. Mesmo assim, tornaram-se testemunhas de que Jesus começou a angustiar-se. Então, Ele disse aos três: “A minha alma está triste até à morte. Permanecei aqui e vigiai” (Mc 14, 33-34). Afastando-se mais um pouco, Jesus inicia sua oração com Deus, dizendo: “Abbá, Pai, tudo te é possível: afasta de mim este cálice. Mas não se faça o que eu quero, senão o que tu queres” (Mc 14, 36). Neste episódio da Agonia, podem-se distinguir três elementos. Primeiro, a experiência primitiva do medo, a turvação dos sentidos diante da morte, comprovando o lado humano de Jesus, que chega a “suar sangue”. Em segundo e terceiro lugares, a contraposição de duas vontades. Há a vontade natural do Jesus humano, que tenta se defender do sofrimento e da morte, e há a vontade do Filho de Deus, que se abandona totalmente à vontade do Pai. E é esta vontade que, finalmente, se torna a vencedora, pois Jesus compreendeu que foi para este momento e as suas sequelas que Deus Pai o enviou. Isso é provado pela palavra definitiva de Jesus: “Pai, glorifica o Teu Nome” (Jo 12, 27-28).
O beijo da traição -: Jesus voltou para onde se encontravam os discípulos, e achou-os dormindo. Acordou a Pedro, dizendo-lhe: “Simão, dormes? Não pudeste vigiar nem uma hora? Vigiai e orai para que não caiais em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mc 14, 37-38) e retirou-se para continuar a sua oração. Voltou mais uma vez, e de novo estavam os discípulos dormindo. Jesus, resignado, disse: “Continuai pois a dormir e descansai. Basta! Chegou a hora: eis que o Filho do Homem está para ser entregue nas mãos dos pecadores”. (Mc 14, 41). Mal terminou de dizer estas palavras, chegou Judas, trazendo consigo uma milícia com espadas e bastões, enviada pelos fariseus. O traidor havia dito a eles que beijaria a Jesus, para identificá-lo, pois estaria escuro. E assim o fez. “Ao chegar, acercou-se dele e disse: Mestre! E o beijou” (Mc 14, 45). Segundo Mateus, Jesus disse a Judas: “Amigo, a que vieste?” (Mt 26, 30). Já Lucas fala que Jesus repreende Judas, mas de forma carinhosa até, dizendo-lhe: “Judas, com um beijo trais o Filho do Homem?” (Lc 22, 48). Os Evangelhos narram que seguiu-se uma pequena luta entre os soldados e os discípulos, que Jesus logo fez parar. Os discípulos, então, fugiram. Jesus foi preso e levado pelos soldados para a cidade. Conta Marcos que um dos seguidores de Jesus procurou segui-los, mas foi notado pelos soldados, que procuraram agarrá-lo, puxando o lençol em que estava envolto. O discípulo, largando o lençol, fugiu nu (Mc 14, 51-52). Como somente Marcos narra este episódio, acredita-se que seja ele mesmo o discípulo apontado.