Aula 27/2012 – A HISTÓRIA NÃO ACABOU (Mc 15, 42 – 16, 20)
27- A HISTÓRIA NÃO ACABOU (Mc 15, 42 – 16, 20)
05/Novembro/2012
Fim da história? -: o fim da história de Jesus nos parece triste e decepcionante. Seus discípulos desapareceram; no alto do Gólgota, algumas mulheres contemplavam Jesus morto na cruz, sem saber o que fazer. Apareceu então um novo personagem: José de Arimatéia, um membro do Sinédrio (um fariseu, portanto), que tomou a iniciativa de enterrar Jesus. É interessante notar que essa pessoa apareceu pela primeira vez na narração. Como membro do Sinédrio, teria ele também decretado a morte de Jesus? Em Mc 14, 16, foi escrito que a decisão da sentença fora unânime. Mas José de Arimatéia era alguém que “também esperava o Reino de Deus” (Mc 15, 43). Talvez tenha tentado defender Jesus, mas viu que era inútil. Sabemos que outro sacerdote fariseu, Nicodemos, também respeitava Jesus. O que teria se passado no coração desses dois homens? Em todo caso, José de Arimatéia conseguiu, de Pilatos, a retirada do corpo e “colocou Jesus num túmulo … e rolou uma pedra para fechar a entrada do túmulo” (Mc 15, 46). Assim, tudo estava terminado. Duas mulheres, porém, insistiram em ficar ali, contemplando o túmulo (Mc 15, 47).
A história não acabou -: de novo, foram as mulheres que não abandonaram o corpo de Jesus. Na manhã de domingo, vão ao local do túmulo, para limpar o corpo, coisa que não havia sido feita na sexta feira. Imaginavam encontrar um morto, digno de todo o respeito, mas fechado para sempre num túmulo: “Quem irá tirar para nós a pedra da entrada do túmulo?” (Mc 16, 3). Contudo, estava reservada para elas uma surpresa, pois a sepultura estava aberta. E apareceu alguém vestido de branco dizendo: “Não fiquem assustadas. Vocês estão procurando Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressuscitou! Não está aqui! Vejam o lugar onde o puseram. Agora vocês devem ir e dizer aos discípulos dele e a Pedro que ele vai para a Galiléia na frente de vocês. Lá vocês o verão, como ele mesmo disse” (Mc 16, 6 – 7).
A prática de Jesus o levou à morte na cruz; a intervenção de Deus Pai o tirou do túmulo. Jesus deve ser encontrado na Galiléia. O lugar do encontro não é num passado concluído, mas num futuro novo; não é na contemplação de um morto, mas no seguimento de quem está vivo. A Jesus ressuscitado, não se deve ungi-lo como a um morto, mas segui-lo, prosseguindo com sua missão.
A Galiléia -: recordemos o que significa a Galiléia. É o lugar onde Jesus iniciou sua prática. Foi de lá que Ele veio para ser batizado e foi para lá que voltou “pregando a Boa Notícia de Deus” (Mc 1, 14). Marcos já nos advertia desde o início que, se quisermos ser discípulos de Jesus, é necessário continuarmos seu projeto, através de nossa vida. Pois bem, o “jovem vestido de branco” (Mc 1, 5) agora nos convida a deixarmos o túmulo vazio e nos dirigirmos à “Galiléia” para continuarmos sua prática, aqui e agora.
As mulheres saíram do túmulo apressadas, assustadas e nada disseram a ninguém, porque tinham medo. Esse é o final do Evangelho de Marcos; os versículos que se seguem são um apêndice. Estranho terminar assim, com as mulheres assustadas e nada dizendo do que lhes fora ordenado. Com isso, Marcos quer nos mostrar que o Evangelho continua aberto para o futuro, que nada acabou. Somos convidados pelo evangelista a continuar o seguimento de Jesus, se quisermos encontrá-lo ressuscitado.
Apêndice -: este trecho é um acréscimo posterior. Provavelmente, os cristãos da primeira geração quiseram completar o Evangelho de Marcos com um resumo das aparições de Jesus e da missão da Igreja, inspirados em Mt 28, 18 – 20; Lc 24, 10 – 53; Jo 20, 11 – 23 e At 1, 4 – 14. O trecho, porém, conserva o ensinamento central do Evangelho de Marcos: os discípulos devem continuar a prática de Jesus, se quiserem encontrá-lo vivo e ressuscitado no meio de nós.
Sem concluir -: o Evangelho de Marcos é para ser lido mais de uma vez. Numa primeira leitura, geralmente nós estamos curiosos; ficamos olhando o que Jesus fez, como reagiram os discípulos e outras personagens. Contudo, não fazemos imediatamente a passagem de tudo isso para o nosso contexto de hoje. Por isso, é importante que, depois de lido o Evangelho no contexto daquela época, leiamos de novo o texto para responder às questões que devemos enfrentar hoje, como seguidores de Jesus.