Aula 25/2009 – UM POVO PEREGRINO
25- CARTA AOS HEBREUS: UM POVO PEREGRINO (3, 1 – 4, 11)
Dois momentos-: esta é uma parte importante desta carta, onde é feita a apresentação de dois momentos da história do povo de Deus. O primeiro trata da travessia do deserto que o povo judeu fez sob a liderança de Moisés. O segundo aponta para o momento em que a carta foi escrita, em que a comunidade deve se deixar guiar pelo seu Sumo Sacerdote Jesus Cristo. Em ambos os momentos, a comunidade deve entender que está sempre a caminho, como peregrina na estrada de um mundo desigual, até chegar à terra prometida.
Jesus e Moisés-: a reflexão sobre o povo peregrino começa com uma comparação entre Jesus e Moisés. No tempo de Jesus, os judeus atribuíam a Moisés as funções de legislador (aquele que faz as leis e as aplica) e de profeta (aquele que fala em nome de Deus). Mas também era considerado um sacerdote porque, pelo menos uma vez, Moisés ofereceu um sacrifício a Deus e também porque exerceu o papel de intercessor entre Deus e o povo. Ora, Jesus também nos mostrou as leis de Deus, falou em Seu Nome e fez o supremo sacrifício de si mesmo. A carta, no entanto, diz que a honra que Jesus merece é maior que a de Moisés, pois é o Filho de Deus.
O autor da carta aos Hebreus fixa-se agora num ponto dos mais importantes: o povo de Deus é um povo sempre a caminho! Recorda-se então a caminhada dos judeus, saindo do Egito à procura da terra prometida e das dificuldades enfrentadas por todo o caminho. Neste ponto, o autor da carta refere-se ao Salmo 95, que fala de dois lugares do caminho onde o povo, cansado das dificuldades, desacreditou de Javé: Meriba (que quer dizer revolta) e Massa (tentação). E aponta para o perigo que a revolta e as tentações apresentam para uma comunidade que quer seguir não mais a Moisés, mas a Jesus. É preciso que a comunidade esteja atenta a isso.
Em resumo, o autor da carta aos Hebreus quer lembrar a comunidade cristã que é necessário não copiar o povo do passado, não se revoltando com as dificuldades da caminhada e não cedendo às tentações, principalmente aquela de se desiludir com Deus. É necessário não perder a confiança e é importante olhar para além do horizonte (ou além da vida, se quisermos entender assim).
Uma promessa que Deus não cumpriu? -: como se sabe, Deus prometeu a Moisés e a seu povo que os levaria à terra prometida. Porém, como a própria Bíblia afirma (Num 14, 20 – 35) muito poucos daqueles que saíram do Egito chegaram a Canaã (nem mesmo Moisés entrou na terra prometida). Deus então falhou com sua promessa? Não, é claro. A promessa foi para o povo de Deus e não somente para aqueles que saíram do Egito. A promessa foi cumprida, pois Josué e os descendentes do povo do Egito chegaram à terra prometida e ali se fixaram. E a promessa de Deus continua através de Jesus para não mais apenas os judeus, mas para todos aqueles que crerem na Sua Palavra. Já que o povo do passado foi infiel e a promessa de Deus se oferece para a comunidade cristã, “tenhamos cuidado enquanto nos é oferecida a oportunidade para entrar no descanso de Deus” (4, 1).
Uma promessa para ser cumprida -: qual é o descanso de Deus ao qual o autor se refere? Em Gen 2, 2, se fala que Deus “descansou” no 7º dia. Depois de mostrar que a promessa do descanso não se cumpriu nem mesmo com a chegada do povo judeu com Josué à terra prometida, pois as guerras continuaram, o autor diz que “está reservado um descanso sabático para o povo de Deus”(4, 9). Um descanso a ser desfrutado para quem se mantiver firme e não por quem desanimar e desobedecer a Deus. É necessário ser companheiro de Jesus Cristo, estar com Ele e seguir Seus passos.
Que descanso é esse? -: mais adiante, a carta aos Hebreus vai se ocupar mais dessa questão. Mas o que se pode concluir por enquanto é que o autor quer alertar a comunidade (e nós também, claro) de que os compromissos com o Evangelho, assumidos quando nos tornamos cristãos, não podem ser deixados de lado diante das dificuldades que encontramos no caminho. Ao contrário, é necessário resistir diante dessas dificuldades, na esperança do “mundo futuro” (2, 5).
A força da palavra de Deus -: a primeira parte da carta aos Hebreus termina acentuando a importância de se acolher hoje a palavra expressa no Salmo 95, atualizada com o auxílio de Gen 2,2. A promessa de Deus é real, e exige de quem a escuta um compromisso decidido. E quem aceita viver de acordo com ela deve estar preparado para as conseqüências, pois ela decide os rumos da vida!
Assim, ouvir e acolher a Palavra significa expor-se diante de Deus, e assumir diante Dele o compromisso de viver de acordo com ela.