Aula 20/2009 – CONFLITOS E OUTROS RETRATOS
20- SEGUNDA CARTA A TIMÓTEO: CONFLITOS E OUTROS RETRATOS (3, 1 – 4, 22)
Conflito que vem de fora … (3, 1 – 5)-: “Saiba, porém, que nos últimos dias haverá momentos difíceis. Os homens serão egoístas, gananciosos, soberbos, blasfemos, rebeldes com os pais, ingratos, iníquos, sem afeto, implacáveis, mentirosos, incontinentes, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres do que de Deus, manterão aparências de piedade, mas negarão sua força interior. Evite essas pessoas”.
Trata-se de uma lista extensa de vícios. Questiona-se, primeiramente, sobre o quando isso irá ocorrer. Alguns pensam que a carta fala do final dos tempos, ou seja, o fim do mundo, que seria precedido por uma onda de relações pervertidas em todos os sentidos. Todavia, a carta aconselha Timóteo a evitar essas pessoas, sinal de que o texto não se refere ao final dos tempos. Pelo contrário: é uma descrição da sociedade daquele tempo (e podemos acrescentar: também do nosso).
Quando as pessoas são assim, a própria religião se torna apenas aparência. Mantém-se um verniz de religiosidade (talvez para aplacar a consciência). Nesse caso, a religião não tem mais razão de ser.
… e pode influenciar a comunidade (3, 6 – 9) -: A carta mostra que esse tipo de relações presentes na sociedade desigual pode se infiltrar na comunidade cristã. O cristianismo perde sua razão de ser quando os cristãos, por falta de testemunho de vida, não são diferentes dos não cristãos. Portanto, Paulo adverte Timóteo e sua comunidade sobre esses perigos, que, devemos reconhecer, ameaçam também a nossa comunidade nos dias de hoje. Estejamos atentos.
Mais retratos de pastor e mártir (3, 10 – 13) -: “Você, porém, me seguiu de perto no ensino e no comportamento, nos projetos, na fé, na paciência, no amor e na perseverança, nas perseguições e sofrimentos que tive em Antioquia, em Icônio e em Listra. Que perseguições sofri! Mas de todas o Senhor me livrou. Ademais, todos os que querem viver com piedade em Jesus Cristo serão perseguidos. Quanto aos maus e impostores, eles progredirão no mal, enganando e sendo enganados”.
Aqui o pastor se entrelaça com o mártir, mostrando quanto é difícil pregar o amor cristão numa sociedade corrupta. Mas destaca-se a solidariedade demonstrada por Timóteo: ele seguiu Paulo de perto, vivendo o papel de pastor e mártir juntamente com ele.
“Quanto a você, permaneça firme naquilo que aprendeu e aceitou como certo; você sabe de quem o aprendeu. Desde a infância você conhece as Sagradas Escrituras; elas tem o poder de lhe comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Jesus Cristo. Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para refutar, para corrigir e para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, preparado para toda boa obra” (3, 14 – 17).
Vamos nos colocar no papel de Timóteo: “permaneça firme”. Não importam as dificuldades que essa frase representa. Nós conhecemos as Sagradas Escrituras desde a infância e, mais importante, sabemos de quem as aprendemos: do Espírito Santo, através de nossos pais, de catequistas e da Igreja.
“Quanto a mim, meu sangue está para ser derramado e chegou o tempo da minha partida. Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora só me resta a coroa da justiça que o Senhor, justo juiz, me entregará naquele dia, e não somente para mim, mas para todos os que tiverem esperado com amor a sua manifestação” (4, 6 – 8).
Paulo pressente a sua morte próxima. Mas pensa, resignado, que sua morte servirá para ajudar a caminhada da evangelização (e estava certo, como sabemos). Ao dizer que chegou o tempo de sua partida, Paulo evoca figurativamente as suas viagens para pregar o Evangelho. Sua morte é vista não como um fim trágico, mas como início de uma nova viagem. Mais adiante, dirá qual é a meta desta viagem: “O Senhor …me levará para seu Reino” (4, 18 a).
Podemos perceber também que neste trecho, Paulo evoca as figuras já usadas anteriormente de soldado e de atleta: combateu e terminou a corrida. O que resta fazer? Os atletas vitoriosos recebiam a coroa como prêmio. Paulo aguarda que o Deus justo faça justiça para o homem justo, dando-lhe o premio, a ele e a todos os justos que esperam a sua manifestação. Paulo sentiu-se totalmente livre e justificado. Morrerá em paz.
Recomendações (4, 9 – 15) -: “Procure vir logo ao meu encontro, pois Demas me abandonou, preferindo o mundo presente. Ele partiu para Tessalônica, Crescente para a Galácia, Tito para a Dalmácia. Somente Lucas está comigo. Procure Marcos e traga-o com você, porque ele pode ajudar-me neste ministério. Mandei Tíquico para Éfeso. Quando você vier, traga-me o manto que deixei em Trôade, na casa de Carpo.
Traga também os livros, principalmente os pergaminhos. Alexandre, o ferreiro, me causou muitos males. O Senhor o recompensará segundo suas obras. Tome cuidado com ele, pois foi muito contrário à nossa pregação”.
Nesse apanhado de coisas pessoais, nota-se a consequência do martírio: todos abandonaram Paulo por causa da vida difícil, com o chefe aprisionado. Somente Lucas permaneceu firme. Mas Paulo, apesar de tudo, continua organizando as comunidades e enviando companheiros leais a elas. Por isso, Crescente, Tito e Tíquico saíram de Roma. Pede a presença de Marcos para ajudá-lo.
Note-se que a situação de Paulo devia ser muito precária, pois pede o seu manto para abrigar-se do frio da prisão de Roma que, além disso, era escura, úmida e muito suja. Além de tudo, Paulo vivia algemado.
Queria também os livros e os pergaminhos, provavelmente para escrever a alguma comunidade e não tinha condições de comprar material para isso. Finalmente, alerta Timóteo sobre Alexandre. Este homem havia sido expulso da comunidade, juntamente com Himeneu, e reagiu violentamente contra Paulo. Mas o apóstolo não guarda rancor contra ele; simplesmente deixa que o Senhor o recompense segundo suas obras…
Seremos nós capazes de imitar Paulo, ainda que de longe?