Aula 20/07/15 – As Tentações De Jesus


AS TENTAÇÕES DE JESUS

20/Julho/2015

A preparação para a missão -: a partir de seu Batismo, como foi visto, Jesus iria iniciar a missão para a qual Deus Pai o incumbiu. Os três Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) contam que a primeira ordem do Espírito Santo a Jesus foi ir ao deserto, para aí ser tentado pelo demônio (Mt 4, 1). Jesus recolheu-se, então, interiormente, para meditar sobre os problemas que iriam perturbar a realização de sua missão. Essa missão consiste, numa primeira etapa, em descer aos perigos que assolam o ser humano, ou seja, conhecer as suas tentações, para que possam ser combatidas. A carta de São Paulo aos Hebreus mostra que pertence à missão de Jesus não se negar aos riscos da condição humana: “Por isso, teve de assemelhar-se em tudo aos seus irmãos, a fim de ser um Sumo Sacerdote misericordioso e fiel no serviço de Deus para expiar os pecados do povo. E por que Ele mesmo sofreu e foi tentado, é que pode socorrer os que são tentados” (Hb 2, 17s).

A filosofia das tentações -: o núcleo de todas as tentações é colocar Deus de lado. Junto às questões urgentes e difíceis da vida, Deus se torna algo secundário e incômodo. Construir a vida sem Deus, reconhecer como realidade apenas as questões materiais, esta é a filosofia das tentações que Jesus enfrentou e que ameaçam a todos, mesmo e principalmente nos dias de hoje.

Pertence também à filosofia das tentações o seu aspecto moral: elas não nos convidam diretamente para o mal; isso seria grosseiro. Elas pretendem mostrar o que seria melhor para nós: pormos de lado as ilusões e dedicar todas as nossas forças à melhoria da vida material. Portanto, a questão acerca da necessidade ou não de Deus na vida é a questão fundamental. O que Jesus deve fazer: acolher Deus ou tender para a vida material. É disso que tratam as três tentações.

A primeira tentação -: “Depois de jejuar 40 dias e 40 noites, Jesus teve fome” (Mt 4, 2). O número 40 tinha em Israel um conteúdo fortemente simbólico. Neste caso, significa o máximo de dias que um ser humano pode suportar em jejum. É então que o demônio tenta desviar Jesus de sua missão: “Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pão” (Mt 4, 3). As palavras “se és o Filho de Deus” seriam ditas novamente pelos que zombavam de Jesus na cruz: “Se és o Filho de Deus, então desce da cruz…” (Mt 27, 40). A tática do demônio é clara: convencer Jesus de que para ser acreditado como Filho de Deus, Ele deve apresentar uma prova material. Esta exigência de prova material deverá percorrer toda a missão de Jesus. No entanto, Jesus sabia perfeitamente que somente a fé, e não certezas materiais levariam o homem a merecer a vida eterna.

Na vida de Jesus, dois outros episódios tratando do pão são importantes: a multiplicação dos pães para a multidão que o seguia, mostrando que Jesus não se importa com a sua fome, mas sim com a nossa. E depois, na última ceia, quando enfim, Ele nos dá o pão da vida, para nunca mais termos fome. E finalmente, repele o demônio, dizendo: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4, 4).

A segunda tentação -: o demônio, derrotado na primeira tentativa, volta novamente a importunar Jesus, desta vez com palavras da própria Escritura. Desafia Jesus a jogar-se do pináculo do Templo, pois Deus não deixaria de socorrê-lo. Diz a Jesus que o Salmo 91, 11s, fala que Deus protege o homem nos perigos: “Ele deu ordens aos seus anjos para te protegerem em todos os caminhos; tomar-te-ão nas palmas das mãos, não aconteça ferires nas pedras os teus pés”. O diabo conhece a Bíblia como um verdadeiro teólogo, citando-a com precisão. Com essa citação do Salmo 91, o diabo insinua que já que a Bíblia assim diz, o homem crente em Deus poderia realizar qualquer façanha perigosa e nada sofreria, já que Deus mandaria salvá-lo. A resposta de Jesus, teólogo maior que o demônio, o cala mais uma vez: “Não deverás tentar o Senhor teu Deus” (Dt 6, 16). Jesus não saltou por que tinha medo. Sabia que se pulasse Deus o protegeria, claro. Não saltou porque daria mais adiante um salto muito maior e mais valoroso, à mansão dos mortos, para redimir a todos os que lá se encontravam. O diabo, mais uma vez derrotado, retirou-se. Mas voltaria ainda uma vez.

A terceira tentação -: o demônio leva Jesus a um alto monte, para que veja o mundo. Mostra-lhe todos os reinos da Terra e os oferece, como uma forma de dominar todo o mundo. É o poder que os homens desejam, o poder de impor sua vontade sobre tudo e todos. E o diabo insinua que este seria o papel do Messias esperado por Israel: dominar em primeiro lugar Israel e depois o mundo. Um domínio de poder material. Isto em troca de adorá-lo. Mais uma vez é necessário dizer que o desejo do poder sobre tudo e todos está presente na sociedade de hoje, mais forte do que nunca.

Ao convite mentiroso de poder material e político por meio da força (guerras), por meios econômicos (o poder do mais rico) e por meios escusos (desonestidades), Jesus vence a Satanás mais uma vez, dizendo-lhe categoricamente: “O Senhor teu Deus deves adorar e só a Ele servir” (Mt 4, 10; Dt 6, 13). Os Evangelhos de Marcos e de Mateus terminam a história das tentações com esta afirmação: “E os anjos vieram e serviram a Jesus” (Mc 1, 13; Mt 4, 11). Agora se cumpre o Salmo 91, 11: os anjos servem a Jesus; Ele provou ser o Filho de Deus.

Epílogo -: uma grande questão agora se levanta: se Jesus não trouxe a paz ao mundo, nem o bem-estar para todos e nem um mundo melhor, o que Ele trouxe? A resposta é simples: Jesus nos trouxe Deus. Agora sabemos como é Deus, agora podemos chamar por Ele, quando nada mais esperamos. A paz, o bem-estar e o mundo melhor estão aí. Somente precisamos colocar Deus neles.


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