Aula 17/2012 – SINAIS DO CÉU, OU DA TERRA? (Mc 7, 31 – 8, 26)
17- SINAIS DO CÉU, OU DA TERRA? (Mc 7, 31 – 8, 26)
(28/07/2012)
Os que pedem sinais do céu -: após curar muitos doentes e repetir uma multiplicação dos pães e dos peixes na Decápole pagã (Mc 8, 1 – 9), Jesus retorna ao território de Israel, onde as primeiras pessoas que encontra são os fariseus. Eles tramam cada vez mais suas armadilhas contra Jesus: “Foram então os fariseus e começaram a discutir com Jesus…para tentá-lo, pediam-lhe um sinal do céu” (Mc 8, 10 – 13). São incapazes de ver os sinais do céu na ação de Jesus: matar a fome, curar doentes, amparar os marginalizados e até mesmo ressuscitar mortos… querem um milagre estrondoso de Deus, não lhes interessando a preocupação de Deus com a justiça, a fraternidade e a dignidade de vida do povo.
Esse pedido dos fariseus é descrito por Marcos como sendo uma tentação, ou seja, fazer com que Jesus se afaste de sua missão. Esse pedido é demoníaco (Mc 1, 12).
Jesus, indignado, responde: “Por que essa geração pede um sinal? Eu garanto a vocês: a essa geração não será dado nenhum sinal” (Mc 8, 12). Se os fariseus não viram os sinais dados por Jesus na terra, de nada lhes valeria um sinal do céu, pois o Reino de Deus se manifesta exatamente nesses sinais que Jesus realizou desde o início de sua atividade. Jesus então deixa os fariseus e se afasta, para a outra margem do mar da Galiléia.
A incompreensão dos discípulos -: os próprios discípulos de Jesus também não compreendem direito as atividades de Jesus. Estavam preocupados porque tinham apenas um pão na barca, e temiam passar fome. Jesus então lhes recorda as multiplicações que fez e mostra que, por pouco pão que tenham, sua verdadeira missão é comprometer-se com a solução dos problemas daqueles que nada tem. E Jesus arremata com uma pergunta: “E vocês ainda não compreendem?” (Mc 8, 21). Essa falta de compreensão dos discípulos levará Jesus a dedicar-se ainda mais à instrução dos discípulos e apagar neles a idéia incutida pelos fariseus sobre a missão do Messias, que deveria ser um guerreiro e preocupar-se com guerras e política. Sem isso, a continuação do Reino de Deus após Jesus deixar esta terra estaria perdida para sempre.
Hora de abrir os olhos -: chegamos ao centro do Evangelho de Marcos. Até agora, apesar de tudo aquilo que realizou, Jesus enfrentou a má vontade dos fariseus e a incompreensão dos seus próprios discípulos, que não entendem sua prática e nem mesmo sabem direito quem ele é. De agora em diante, Jesus irá se dedicar a melhorar a compreensão dos seus discípulos sobre a sua verdadeira missão, para que eles vejam com clareza e tomem uma posição mais definida em seu seguimento.
Da cegueira para a visão -: Jesus cura um cego em Betsaida (Mc 8, 22 – 26). Essa cura só é narrada por Marcos. Por que o evangelista fez questão de contá-la e a colocou nesta etapa do seu Evangelho? Porque esta narrativa se torna um símbolo daquilo que Jesus vai fazer com seus discípulos daqui para diante. Vejamos a descrição de Marcos: “Jesus pegou o cego pela mão, levou-o para fora do povoado e cuspiu nos olhos dele” (Mc 8, 23). Ao pegar o cego pela mão, Jesus mostra que vai fazer o mesmo com os discípulos, a fim de ajudá-los a compreender sua missão; saindo do povoado, Jesus quer instruir os discípulos sem mais ninguém para interromper. Finalmente, o ato de cuspir nos olhos indica que Jesus quer “lavar” os olhos dos companheiros para que comecem a enxergar e compreender suas atividades verdadeiramente. Em seguida, Jesus pergunta ao cego se ele está vendo alguma coisa. “Estou vendo homens; parecem árvores que andam” (Mc 8, 24). A visão do cego não é completa. Então, Jesus pôs de novo as mãos sobre os olhos do cego e ele começou a enxergar claramente.
É o que Jesus pretende fazer com os discípulos: abrir os olhos deles totalmente, para que vejam com clareza sua pessoa e sua missão.
Seguidores livres -: Jesus dá uma ordem estranha ao cego curado: “mandou o homem ir para casa, dizendo: não entre no povoado” (Mc 8, 26). Por que? Porque as ações que Jesus está praticando ainda não devem ser divulgadas, pois seriam mal compreendidas. A difusão das atividades de Jesus devem acontecer somente na hora oportuna, quando finalmente elas forem claramente compreendidas por todos.