Aula 14/09/15 – O Lava Pés


O LAVA-PÉS

(14/Setembro/2015)

A hora de Jesus -: Depois da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, os Evangelhos retomam a narração, com uma datação exata, que conduz diretamente à Última Ceia. Na abertura do seu capítulo 14, Marcos começa escrevendo: “A Páscoa e os Ázimos seriam dois dias depois” (Mc 14, 1) ; em seguida fala da unção em Betânia, onde uma mulher derramou sobre a cabeça de Jesus um frasco de perfume caro, e do início da traição de Judas, que foi tratar com os fariseus da entrega de Jesus. Após isso, Marcos retoma o fio da narrativa da Páscoa, escrevendo: “No primeiro dia dos Ázimos, em que se imolava o cordeiro pascal, os discípulos perguntaram a Jesus: Onde queres que façamos os preparativos para comeres a Páscoa?” (Mc 14, 12).

Na carta de S.Paulo aos Filipenses (Fp 2, 7-8), está demonstrado com força admirável o significado maior do gesto de Jesus na Última Ceia, ao lavar os pés dos discípulos: num gesto contrário ao de Adão, que tentou com suas forças humanas tornar-se divino, Jesus, com um gesto simbólico, desceu da sua divindade e tornou-se plenamente homem, assumindo a “condição de servo” e “fez-se obediente até à morte, e morte de cruz”.

Com o lava-pés, Jesus demonstra o conjunto de sua missão redentora. Despoja-se do seu esplendor de Filho de Deus, ajoelha-se (simbolicamente, diante de nós), lava e enxuga nossos pés sujos, para nos tornar capazes de participar do Reino de Deus.

Os conceitos de pureza -: no texto do Lava-pés, a palavra “puro” aparece três vezes. Segundo os Evangelhos, e mesmo segundo os ensinamentos de quase todas as religiões, para poder comparecer diante de Deus e entrar em comunhão com Ele, o ser humano deve ser “puro”. Porém, quanto mais nos tornamos conscientes disso, mais “sujos” nos sentimos, e temos a necessidade de nos limpar. Por isso, as religiões todas criaram sistemas de “purificação”, com a finalidade de dar ao ser humano a possibilidade de acesso a Deus. No judaísmo do tempo de Jesus, o sistema de purificação dominava a vida inteira da pessoa. Esse sistema levava á grandes absurdos, onde os rituais eram mais importantes do que a pureza da alma. Por exemplo, a pessoa que não fizesse as abluções higiênicas antes de comer era considerada impura. Impuras eram as mulheres durante o período da menstruação, não podendo nem mesmo adentrar o Templo. Também impuros eram os infelizes que contraiam a lepra, sendo obrigados a viver em isolamento total. Havia por volta de 613 “mandamentos” do judaísmo que as pessoas eram obrigadas a observar, para que fosse considerada “pura”.

Os conceitos de Jesus -: no Evangelho de Marcos, vemos a “virada” radical que Jesus deu ao conceito de pureza diante de Deus: não são as ações rituais que purificam. Pureza e impureza estão no coração do ser humano e dependem do que predomina nele. Então, nos defrontamos com algumas perguntas: Como se torna puro o coração? Quem são os homens de coração puro, que verão á Deus? Muitos teólogos cristãos dizem que Jesus teria substituído o conceito de pureza ritual pelo conceito de pureza moral. Dessa forma, o cristianismo seria essencialmente uma moral, uma forma de agir com ética. Mas isso não faria justiça ao pensamento de Jesus.

A verdadeira pureza de coração transparece quando, nos Atos dos Apóstolos, Pedro enfrenta os fariseus convertidos ao cristianismo, que exigem que os cristãos vindos do paganismo sejam circuncidados, e que observem as leis de Moisés. Pedro então diz: “Irmãos, vós sabeis que, desde os primeiros dias, o Senhor me escolheu dentre vós para que os gentios ouvissem de minha boca a Palavra do Evangelho e cressem (…) Deus não fez distinção alguma entre nós e eles, purificando seus corações pela fé” (At 15, 5-9). Então, é pela fé que o coração é purificado. A fé se origina do fato de Deus se voltar para o ser humano. Não se trata simplesmente de uma opção do homem. A fé nasce porque as pessoas são tocadas interiormente pelo Espírito Santo, que lhes abre o coração e o purifica.

O Lava-pés -: no capítulo 13 do Evangelho de João, o lava-pés realizado por Jesus apresenta-se, conforme já foi dito, como o caminho simbólico da purificação. Na realidade, a lavagem que nos purifica é o amor de Jesus, o amor que se entrega até a morte. Foi por isso que Pedro, resistindo à ideia de ter os pés lavados por Jesus, foi pelo Mestre repreendido. João conta que Pedro disse a Jesus: “Jamais me lavarás os pés”, ao que Jesus lhe responde: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo” (Jo 13, 8). Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus os reúne e diz: “Compreendeis o que vos fiz”? (…) Se, portanto eu, sendo Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros (Jo 13, 12-14).

Em outras palavras, se Jesus se humilha perante o ser humano, quanto mais humilde deverá se tornar o ser humano perante Deus e perante o próximo? Se não nos tornarmos humildes e não “lavarmos os pés” de nossos próximos, corremos o risco de ouvir de Jesus aquelas palavras que Pedro ouviu: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo”. Deixemos que Jesus nos dê seu amor, lavando nossos pés, mas não esqueçamos de também “lavar os pés” de nossos irmãos.


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