Aula 14/03/16 – A Misericódia E O Pecado
A MISERICÓRDIA E O PECADO
14/Março/2016
A revelação do Evangelho -: em um de seus muitos aspectos, o Evangelho é “a revelação, em Jesus Cristo, da misericórdia de Deus para com os pecadores” (Lc 15, 11-32). Pecadores somos todos nós, seres humanos, pois não há quem não tenha cometido pecado nesta vida, com exceção de Jesus Cristo e da Virgem Maria, aquele por ser o próprio Deus feito homem, e esta por ser preservada do pecado pela missão a que Deus a destinou. E se Deus nos criou para a felicidade, por que motivo, cometemos pecados? É uma pergunta que contém muitas respostas, entre as quais se podem citar o egoísmo, o desejo de poder, de riqueza, o ódio, a vingança, a luxúria, as tentações de todos os tipos, e tudo aquilo mais que nos desvia dos desejos de Deus.
O que é o pecado? -: segundo o Catecismo da Igreja Católica, o pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a consciência reta; é uma falta ao amor verdadeiro para com Deus e pra com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana. Foi definido como “uma palavra, um ato ou um desejo contrários à lei eterna”, ou seja, contrários ao desejo de Deus, sendo, portanto uma ofensa ao Criador. É evidente que o pecado possui uma grande diversidade de aspectos, podendo variar desde um leve descumprimento de uma norma até atos gravíssimos, de natureza criminosa.
A diversidade do pecado -: a variedade do pecado é grande, como apontado acima. Na sua carta aos gálatas (Gal 5, 19-21), São Paulo apresenta uma extensa lista de pecados carnais: “As obras da carne são manifestas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, ódios, rixas, ciúmes, iras, discussões, discórdias, divisões, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos previno, como já vos preveni: os que praticam estas coisas não herdarão o Reino de Deus”. Existem também os pecados espirituais, que não englobam a carne, mas atingem o espírito do homem e sua pureza.
Podem-se dividir os pecados segundo o seu objetivo ou segundo a ofensa a uma virtude, ou ainda segundo os Mandamentos a que eles se opõem. Os pecados também podem ser classificados se referem a ofensas contra Deus, contra o próximo ou contra si mesmo.
A gravidade do pecado -: conforme se pode notar na Bíblia, existe a distinção entre pecado mortal (ou grave) e pecado venial (falta mais leve). Essa distinção se impôs na Tradição da Igreja desde muito cedo, e a experiência humana a confirma. O pecado mortal destrói a caridade no coração humano por uma infração grave da lei de Deus; desvia o homem de Deus, preferindo um bem inferior. O pecado venial deixa permanecer o amor a Deus, embora ofenda e fira essa caridade. Assinalamos aqui que por caridade se entende o amor a Deus. Para que cometa um pecado, é necessário que existam todas estas três condições: matéria grave, conhecimento e consentimento. Por matéria grave, entende-se tudo aquilo que fere os Mandamentos da lei de Deus. O conhecimento pressupõe que a pessoa sabe que aquilo que vai ser cometido é pecado. Finalmente, o consentimento significa que a pessoa quer ou consente em cometer o pecado. Se uma destas três condições faltar, o pecado não é mortal, ou nem mesmo chega a ser pecado, dependendo das condições.
A misericórdia de Deus e o pecado -: Santo Agostinho assinalou que “Deus nos criou sem nós, mas não quis salvar-nos sem nós” (Sermão 169, 11 – 13). Isso quer dizer que a remissão dos nossos pecados passa também por nossa vontade, e que a misericórdia de Deus exige de nossa parte o reconhecimento e a confissão de nossas faltas. Deus, em sua infinita misericórdia, perdoa sempre, mas pede de nós que façamos a nossa parte. Se dissermos que não temos pecado, estaremos nos enganando a nós mesmos. Como diz São João (1Jo 1, 8-9), “se confessarmos nossos pecados, Ele, que é fiel e justo, perdoará nossos pecados e nos purificará de toda injustiça”.
Segundo afirma São Paulo, onde o pecado é grande, a graça de Deus é maior. Em outras palavras, o apóstolo nos diz que a misericórdia de Deus é sempre maior que os pecados que tenhamos cometido. Isso, no entanto, exige de nós, além do reconhecimento das nossas faltas e a confissão delas, também a nossa conversão. A conversão requer que esclareçamos os nossos pecados através do julgamento de nossa consciência.
O que é a conversão -: Jesus sempre nos convida à conversão. A doutrina da Igreja ensina que a primeira conversão se dá quando do nosso Batismo. É pela fé no Batismo e pela aceitação do Evangelho que se renuncia ao mal e se adquire a salvação, isto é, a remissão de todos os pecados e o dom da nova vida.
Entretanto, após o Batismo, a vida continua, e as ocasiões de pecado também. Assim, o apelo de Jesus à conversão continua a ressoar na vida dos cristãos. Esta é a segunda conversão é uma tarefa continuada para toda a Igreja (que somos nós), que reúne em seu seio santos e pecadores. A segunda conversão dura, portanto, toda a vida terrena, e deve ser conquistada com muita fé e força de vontade.
O fruto da misericórdia de Deus -: “Deus encerrou á todos na desobediência para á todos fazer misericórdia” (Rom 11, 32). A misericórdia de Deus é tão grande que Ele nos deu seu Filho Jesus Cristo, que é a Misericórdia de Deus personificada, e que nos deixou como fruto o sacramento da Reconciliação, para que tenhamos desde já aqui na Terra uma experiência da sua misericórdia. Neste ano Santo de 2016, o ano da Misericórdia, temos o dever de praticá-la para aumentar em nós a conversão.