Aula 10/08/20 – Parábola de Jesus: O Bom Samaritano
ESCOLA VIVENCIAL DO GED DE PIRACICABA – 2020
PARÁBOLA DE JESUS: O BOM SAMARITANO
10 / agosto /2020
Nossa vida é uma contínua busca, pois nossa fome e sede é sempre a de encontrar um sentido que nos leve a mais vida. E como viver para termos a vida por excelência, o dom de Deus que chamamos de vida eterna, ou vida em plenitude? Devemos esperá-la para depois da morte ou podemos experimentá-la desde já? Qual o segredo que nos leva a ela?
O amor é o centro da vida (10,25-28)
O especialista em leis quer colocar Jesus numa armadilha e pergunta o que deve fazer para herdar a vida eterna. Tratando-se de um especialista na legislação, a armadilha é ver se Jesus é fiel às escrituras e se ele observa os 613 mandamentos que o judaísmo prescrevia.
Jesus não responde, mas devolve a pergunta ao especialista. Ele sabe que nesse tempo se discutia muito sobre qual seria o resumo fundamental de todos os mandamentos. O especialista responde, unindo Deuteronômio 6,5 (amor a Deus) com Levítico 19,18 (amor ao próximo). Notar que um só verbo comanda os dois mandamentos, mostrando que Deus e o próximo são como que as duas faces da mesma moeda do amor. O amor a Deus é a mística interna que rege a prática externa do amor ao próximo. O amor de Deus exige total devoção (coração, alma, força, mente). E o amor ao próximo total identificação (como a si mesmo).
Jesus aprova e confirma que a vida e, portanto, também a vida eterna se encontra na experiência e na prática do amor.
Amor é prática e não teoria (10,29-37)
O especialista em leis não se dá por vencido e coloca outra pergunta: “quem é o meu próximo?” Isso também era muito discutido naquele tempo e ainda hoje está presente em nossas cabeças. O próximo é o parente, o amigo, o colega, os que são da mesma religião, raça, partido, classe social? Por trás disso tudo, o que se tenta é estabelecer as fronteiras do amor. Quem ficar fora da fronteira não merece nosso amor.
Jesus não discute a teoria sobre o próximo. Em vez disso, conta uma parábola e novamente devolve a pergunta ao especialista. A estrada de Jerusalém a Jericó ainda hoje é perigosa e tudo faz pensar que o homem que foi assaltado e quase morto é um judeu. O sacerdote e o levita veem o homem caído e se desviam “pelo outro lado”. Certamente tinham boas teorias sobre o próximo e não vale a desculpa de que tivessem vindo e não indo para o Templo em Jerusalém.
Em contrapartida, um samaritano, inimigo tradicional dos judeus, se aproxima, vê e se enche de compaixão, ou seja, “sofre junto” com o homem ferido. E começa a prática do amor. Ali mesmo faz os primeiros cuidados, coloca o ferido no seu jumento e, a pé, vai até uma pensão, onde continua a cuidar dele. No dia seguinte dá duas moedas (salário de dois dias) ao dono da pensão e compromete-se a pagar o que mais for gasto. A parábola descreve tudo o que o samaritano fez para salientar que a prática do amor não tem limites. É a necessidade do outro que diz o que deve ser feito e até que ponto se deve amar.
Além disso, o amor quebra todas as fronteiras: o samaritano não se perguntou se aquele ferido era judeu ou não. O próximo é qualquer pessoa que eu encontro.
E Jesus pergunta ao especialista: “Qual dos três foi o próximo do homem que caiu na mão do assaltante?” Ou seja, quem foi que se tornou próximo dele? A questão muda radicalmente. O amor nasce da mística interna do amor a Deus que faz com que nos aproximemos do necessitado e respondamos concretamente às suas necessidades. O especialista estava preocupado com a fronteira do amor. Jesus mostra que o amor é um centro que irradia ações práticas e não conhece nenhuma fronteira. O especialista reconhece isso e a palavra misericórdia (= mandar o coração) mostra bem que tornar-se próximo é entrar em sintonia com o outro e sofrer junto com ele (compaixão).
E, no fim, temos a ordem solene “Vá e faça a mesma coisa”. E outra palavra preocupe-se em realizar concretamente a prática do amor, sem se preocupar com as teorias sobre o próximo que merece o seu amor.
Três modos de ser e de viver
Na parábola são apresentados três modos de ser e de viver: o dos assaltantes, o do sacerdote e do levita e o do samaritano. São três compreensões diferentes que condicionam o ser e o comportamento das pessoas. O ladrão acha que “o que é teu é meu” e vive à espreita contínua do roubo e da exploração. O sacerdote e o levita acham que “o que é meu é meu” e se fecham no que são e no que possuem, deixando que os outros “se virem”. Já o samaritano acha que “o que é meu é teu” e reparte não só seu coração, mas também seu tempo e tudo o que possui. Não há outros modos de ser e de viver e tudo nas relações entre as pessoas é governado por um desses modos. Resta ver em qual deles nos encaixamos, lembrando que o evangelho está radicalmente do lado do samaritano da parábola.
Obedecer à palavra de Jesus (10,38-42)
A partir de João 11,1-44, sabemos que Jesus era amigo de Marta e Maria que moravam em Betânia e que tinham temperamentos diferentes. Marta certamente está preocupada em preparar uma boa refeição, enquanto Maria se preocupa em ouvir Jesus. A resposta à reclamação de Marta mostra que mais importante do que simplesmente fazer as coisas é fazê-la de modo novo, inserindo tudo no projeto de Jesus.
É a palavra de Jesus que mostra o que fazer e como fazer.
Não se diz o que Jesus estava falando a Maria, mas, colocado logo após 10,25-37, o episódio frisa as duas ordens de Jesus (10,28 e 37). A grande ordem de Jesus é o amor cuja mística nos une a Deus e cuja prática nos une ao próximo. É o amor que revela o sentido da vida, fazendo-nos realizar com gosto e alegria aquilo que deve ser feito neste momento. E convém lembrar que o nome “Marta” significa “amargor”. De que vale fazer tudo mas, com amargor?