Aula 10/08/15 – A Transfiguração De Jesus
A TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS
10/Agosto/2015
Os montes na vida de Jesus -: no texto evangélico da Transfiguração (Mc 9, 2) é dito que Jesus tomou à parte Pedro, Tiago e João e levou-os a um alto monte, onde ocorreu esse fato. De novo encontramos como no sermão da Montanha e nas noites de oração de Jesus, o monte como o lugar da especial proximidade do Filho com Deus Pai. Devemos pensar em conjunto os diversos montes na vida de Jesus: o monte da tentação, o monte do Sermão da Montanha, o monte da oração, o monte da Transfiguração, o monte da agonia, o monte da cruz e, finalmente, o monte da Ressurreição.
Por que os montes eram tão agradáveis a Jesus? A interpretação simbólica, mas também real, aponta para os montes como lugares de elevação tanto do corpo quanto da alma; no alto, sente-se melhor a presença de Deus. E foi no alto de um monte que Jesus revelou a sua divindade aos três maravilhados apóstolos.
Como aconteceu -: de maneira muito simples, São Marcos diz: “E Ele se transfigurou diante deles” e prossegue de um jeito até um pouco hesitante e desajeitado diante do mistério daquele fato: “As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que lavadeira alguma sobre a terra poderia branquear assim” (Mc 9, 3). São Lucas, mais acostumado com as palavras, já havia anteriormente escrito que Jesus subira ao monte para rezar, e explica o acontecimento a partir daí: “Enquanto Ele rezava, o aspecto do seu rosto alterou-se e as suas vestes tornaram-se de uma brancura fulgurante” (Lc 9, 29). A Transfiguração é um acontecimento ligado à oração; torna-se claro o que acontece no diálogo de Jesus com Deus Pai: Jesus penetra todo o seu ser em Deus e por isso torna-se pura luz (luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, como diz a profissão de fé Niceno-Constantinopolitano).
Também Moisés, ao descer do monte Sinai, mostrava um brilho no rosto: “Enquanto Moisés descia do monte, ele não sabia que a pele de seu rosto irradiava luz, porque tinha falado com o Senhor” (Ex 34, 29). Mas é um brilho que vem de fora sobre Moisés que faz com que ele também brilhe. Jesus, porém, brilha a partir de dentro, Ele não só recebe a luz como também Ele mesmo é luz.
As vestes brancas de Jesus falam também a respeito do nosso futuro. No Apocalipse de São João, as vestes brancas são a identificação do ser celeste: as vestes dos anjos e dos eleitos. E são brancas porque foram lavadas no Sangue do Cordeiro de Deus, isto é, porque pelo batismo foram ligadas com a Paixão de Jesus, que purificou a todos os batizados.
Moisés e Elias -: então, aparecem Moisés e Elias, falando com Jesus. Somente São Lucas nos conta brevemente sobre o que os dois falavam com Jesus: “Eles apareceram na glória e falavam sobre o seu êxodo, a sua saída, que devia realizar-se em Jerusalém” (Lc 9, 31). O tema da conversa é a cruz, entendida como “o êxodo, a saída” de Jesus deste mundo, que deveria ser em Jerusalém. A cruz de Jesus é um novo êxodo: partida desta vida, passagem através do “mar vermelho” da Paixão e ida para a glória. Moisés e Elias são eles mesmos, como testemunhas da Paixão de Cristo.
Os três discípulos -: Pedro, Tiago e João assistiram mudos de espanto, àquela cena de pura maravilha. Assustaram-se diante da grandeza da aparição. O “susto perante Deus” toma conta deles, como em outros momentos em que Jesus mostrou a sua proximidade com Deus. Diante de Deus, o ser humano sente a própria miséria e fica paralisado de medo. Então, Pedro, que em seu torpor, “não sabia o que estava dizendo” (Mc 9, 6), adiantou-se e disse: “Mestre, é bom estarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias” (Mc 9,5). Pedro, bem como os outros dois, embora com medo, sentiu-se tão bem que não mais queria sair dali e voltar para o mundo.
A teofania -: São Marcos prossegue na sua narrativa contando: “Veio então uma nuvem e envolveu-os com a sua sombra, e da nuvem fez-se ouvir uma voz: este é o meu Filho muito amado escutai-O” (Mc 9, 7). A nuvem sagrada, a shekkhina, é o sinal do próprio Deus. Jesus é a tenda sagrada, sobre a qual está a nuvem da presença de Deus, e que cobre os outros com a sua sombra. Repetiu-se então a cena do Batismo de Jesus, onde Deus Pai revelou que Jesus é “o Filho muito amado” (Mc 1, 11).
Mas desta vez, Deus nos dá uma ordem direta, mandando que escutemos a Jesus. Essa ordem não poderia ser mais imperativa: Jesus é na terra a própria Palavra de Deus, e tudo o que Ele disser será como se o próprio Deus tivesse dito.
À volta -: os três atordoados discípulos voltam do monte com Jesus, que os proíbe de comentar o ocorrido. Mas então, por que Jesus os teria levado junto com Ele? Não é difícil perceber: sobre o monte, os três veem aparecer a glória de Deus em Jesus. A nuvem sagrada cobre-os com sua sombra. Ficam então sabendo que Jesus mesmo é a Palavra de Deus e, finalmente, veem o poder do Reino que chega em Jesus. São desta forma, lentamente introduzidos em toda a profundidade do mistério de Jesus.