Aula 09/10/17 – Judas No Cenáculo


JUDAS NO CENÁCULO

09/Outubro/2017

A pergunta de séculos -: Judas estava presente no momento da Instituição da Eucaristia, ou já havia saído? É uma pergunta que foi feita durante séculos, e até hoje ainda não se chegou a um consenso. Isso porque as narrativas do fato, em que pese haver 4 Evangelhos, não dão importância a esse episódio, não citando se Judas estava ou não presente. Provavelmente, os evangelistas não julgaram que isso viesse a ter alguma importância, comparado com o fato que se tornou o centro da fé católica.

Para que se chegue a formar pelo menos uma opinião (e não necessariamente a verdade absoluta), é preciso conhecer a forma pela qual tudo se passou. Para isso, é necessário conhecer-se alguns aspectos do episódio.

O Cenáculo: o local da última ceia ficava no andar superior de uma habitação que, provavelmente, pertencia a de pessoas de posses. Se nos lembrarmos de que os discípulos de Jesus se reuniam em Jerusalém na casa de João Marcos, cuja mãe, Maria, era aparentemente viúva e seguidora de Jesus, o que se depreende da leitura de At 12, 11 – 14, não parece difícil saber qual foi o lugar: “E tendo compreendido, Pedro foi para a casa de Maria, mãe de João, também chamado João Marcos”. Este episódio se refere à milagrosa escapada de Pedro da prisão onde estava confinado por ordem dos fariseus. Vemos também que aqui aparece ainda outra Maria, mãe do evangelista Marcos.

A sala era bastante grande, tendo em vista que nessa mesma sala se reuniam os discípulos, após a Ascensão de Jesus, conforme narrado em At 1, 15. E aí aconteceu também o Pentecostes (At 2, 1).

Devemos nos lembrar de que os judeus não comiam sentados à mesa, como nós fazemos, e sim reclinados (quase deitados) sobre o cotovelo esquerdo, que apoiavam sobre a mesa, que era baixa. Não havia cadeiras.

O início da ceia -: foi nesse contexto que Jesus e os 12 começaram a ceia.. Jesus estava no centro da mesa, tendo ao seu lado esquerdo Pedro e ao seu lado direito João e depois Judas. Da leitura dos textos dos 4 Evangelhos, pode-se depreender alguns dos movimentos das 4 pessoas principais do fato. Vamos ler o texto de Mt 26, 20 – 23 … 25 e meditar sobre ele:

“Ao cair da tarde, Ele se pôs à mesa com os Doze. Enquanto comiam, disse-lhes: `Eu lhes garanto: um de vocês vai me entregar´. Eles ficaram muito tristes e, um a um, começaram a perguntar-lhe: `Serei eu, Senhor?´. Jesus respondeu: `Aquele que se serviu comigo do prato, esse me entregará´ … Judas, seu traidor, perguntou: `Por acaso sou eu, Senhor?´. Jesus respondeu: `Tu o disseste´.”

Como se vê, não se pode dizer, com absoluta certeza, que Judas estava presente ou ausente no momento da Instituição. É de se ter a impressão que, após Jesus ter identificado Judas Iscariotes como o traidor, seria muito mais natural que ele se retirasse imediatamente, constrangido e de cabeça baixa por ter sido desmascarado. No entanto, Mateus nada diz sobre o restante da cena.

A narração de Marcos parece coincidir com a de Mateus, ou seja, que Judas saiu antes da Eucaristia ser instituída, mas não diz isso claramente. De João não se depreende nada, porque por incrível que pareça, ele que foi tão dedicado a Jesus omite a instituição da Eucaristia.

Lucas parece antepor claramente a Instituição da Eucaristia à saída de Judas do recinto; eis o que Lucas diz sobre o fato: “E tomando o pão, partiu-o e o deu a eles, dizendo: `Isto é o meu corpo, que é entregue por vocês. Façam isto em memória de Mim´. Depois da ceia, fez o mesmo com o cálice e disse: `Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vocês. Mas eis que a mão daquele que vai me trair está comigo sobre a mesa” (Lc 22, 19 – 21).

O que pensar então? -: não se pode dizer que são 2 relatos contra um, porque sabemos que Mateus adotou muita coisa a partir de Marcos, que parece ter sido o primeiro Evangelho. Além disso, Lucas é muito mais cuidadoso que os outros dois nos seus escritos, principalmente porque ele pesquisou muito mais os fatos, ao passo que Mateus e Marcos escreveram a partir do que se lembravam do próprio Mateus e Pedro, de cujas narrativas orais, Marcos se utilizou para escrever o seu Evangelho. Além disso, a ordem cronológica dos fatos da vida de Jesus é muito mais precisa em Lucas.

Levantou-se entre os exegetas uma questão moral-sentimental a respeito do fato: Não seria um sacrilégio a presença de Judas, o traidor, no momento da Instituição da Eucaristia? Teria ele comungado do pão que Jesus havia afirmado ser o seu Corpo e do vinho que era seu Sangue?

A maioria, levada por esta constatação, preferiu aceitar que Judas já havia saído. No entanto, a narrativa muito mais cuidadosa de Lucas diz o contrário. E se Judas houvesse comungado, qual seria a sua situação? Aparentemente, não mudaria nada, desde que ele já estava condenado pelo seu pecado de traição.


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