Aula 09/03/15 – Evangelhos Apócrifos
EVANGELHOS APÓCRIFOS
09/março/2015
O que são os Evangelhos Apócrifos? -: a palavra apócrifo (do grego apocryphos) significa algo oculto, secreto. Com o passar do tempo, passou a significar algo ilegítimo, alguma coisa cuja autenticidade não pode ser provada. Durante a época de formação da Igreja, nos primeiros séculos do cristianismo, surgiram dezenas de escritos sobre a vida e obra de Jesus Cristo, o que chegou a confundir as primitivas comunidades cristãs, por causa de algumas doutrinas estranhas e fatos improváveis contidos nesses escritos. A partir do século IV, a Igreja, por causa desses problemas, resolveu definir o cânon (do grego kanon, que quer dizer regra) das Sagradas Escrituras, aceitando como autênticos os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. Todos os demais “Evangelhos” foram considerados apócrifos por não poderem ser autenticados.
As descobertas mais recentes -: definidos os Evangelhos canônicos, todos os demais foram sendo esquecidos, até praticamente desaparecerem. Porém, nas últimas décadas, a arqueologia tem descoberto antigos escritos contendo os tais evangelhos apócrifa, e infelizmente, muita gente os considera verdadeiros, por motivos os mais variados, porém sem base alguma. Há apócrifos atribuídos a Pedro, Tomé, Filipe, Bartolomeu e até mesmo a Nicodemos, o fariseu. Existe também um Evangelho apócrifo atribuído a Maria, bem como outros escritos que não são evangelhos, mas são semelhantes aos outros livros do Novo Testamento, como os Atos de Pedro, o Apocalipse de São Paulo, etc.. Até mesmo livros semelhantes aos do Velho Testamento foram escritos: Ascensão de Isaías, Segredos de Enoch e outros.
No entanto, as maiores descobertas de livros apócrifos se deram em 1945, na região do Nag Hammadi (Egito) e em 1947, em Qumran (Israel), nas grutas do Mar Morto, onde existia na época de Jesus uma comunidade de israelitas separados, conhecidos como essênios. Já houve quem dissesse baseado nesses escritos, que talvez Jesus fosse um essênio. Claro que não há nenhuma comprovação disso.
Uma observação importante -: os livros canônicos (aceitos pela Igreja) estão classificados em protocanônicos (aqueles cuja autenticidade a Igreja nunca questionou) e deuterocanônicos (que foram aceitos como legítimos após muitos debates que se prolongaram até o século IV). Os protestantes chamam os livros deuterocanônicos de apócrifos, e por isso retiraram-nos de suas Bíblias, como se fossem falsos. É bom saber que são livros do Antigo Testamento. O Novo Testamento não sofreu alterações pelos protestantes. A Bíblia está completa? -: seria imprudente afirmar que a Bíblia está completa, pois ela própria não afirma isso. Pelo contrário, ela afirma que muitos outros livros, inclusive cartas, foram escritos. Temos dois exemplos disso:
“Muitos já tentaram compor a história do que aconteceu entre nós, assim como nos transmitiram os que foram testemunhas oculares e ministros da Palavra desde o princípio” (Lc 1, 1);
“Uma vez lida esta carta entre vós, fazei com que seja lida também na igreja de Laodicéia. E vós ledes a (carta) de Laodicéia” (Cl 4, 16).
Portanto, podemos ver que a Bíblia não está completa, e como ela mesma não define quais os livros que são inspirados e que a formam, fica muito difícil determinar quando e como a Bíblia estará realmente completa.
Apócrifos na Bíblia? -: o cânon da Bíblia é formado por 73 livros, 46 no Antigo e 27 no Novo Testamento. Todos estes 73 livros são realmente inspirados pelo Espírito Santo e, portanto, autênticos como Palavra de Deus. Isso, no entanto, não significa que não haja outros livros inspirados, e que não constam da Bíblia. Ela mesma faz referências a passagens que se encontram somente nos livros apócrifos. Dois bons exemplos podem ser encontrados na carta de São Judas (Jd 1, 9 e Jd 1, 14 -15). As duas citações feitas por São Judas são achadas somente em livros apócrifos. Por que estes livros não constam da Bíblia? Porque, como já explicado, ou estão incompletos (são fragmentos apenas) ou não puderam ser legitimados por razões diversas.
Valor dos apócrifos -: é preciso compreender que, por serem apócrifos, estes livros não tem nenhum valor. Entre eles há aqueles fantásticos e/ou heréticos, mas há também aqueles que possuem bons ensinamentos. Os apócrifos do Novo Testamento apresentam diversos aspectos históricos da era de Jesus. Algumas ideias são conformes com os ensinamentos da Igreja, como a virgindade e a assunção de Nossa Senhora, a descida de Cristo à mansão dos mortos e a real divindade de Jesus. Eles também esclarecem pequenos detalhes que não foram citados nos quatro evangelhos canônicos, como o nome e o número dos reis magos, os nomes dos pais de Maria Santíssima, o nome do soldado que transpassou o corpo de Jesus com a lança, a morte de São José na presença de Jesus, a apresentação de Maria ao Templo em Jerusalém e a sua morte assistida pelos apóstolos. Narram também alguns outros milagres de Jesus. Tudo isso, afirmando mais uma vez, sem a devida comprovação.