Aula 09/02/15 – Jesus aos 12 anos


JESUS AOS 12 ANOS

09/Fevereiro/2015

Origem do episódio -: Além da narração do nascimento de Jesus, São Lucas deixou ainda um precioso fragmento da tradição da infância de Jesus: narra ele que, todos os anos pela Páscoa, os pais de Jesus iam em peregrinação a Jerusalém. A família de Jesus era religiosa e observava a Lei de Moisés.

Jesus não veio abolir a Lei e sim aperfeiçoá-la (Mt 5, 17). Essa união da Antiga com a Nova Lei é o verdadeiro motivo pelo qual São Lucas fez a narrativa desse episódio; é o motivo teológico que a narrativa procura explicar.

A Torah judaica (um dos segmentos de observação da Lei de Moisés) pedia que cada israelita, por ocasião das três grandes festas (a Páscoa, o Pentecostes e as Cabanas), devia apresentar-se ao Templo. Se s mulheres deviam apresentar-se ou não, era objeto de discussão entre as diversas correntes do judaísmo. Para os adolescentes, era obrigatório a partir dos 13 anos; entretanto, aceitava-se que, a partir dos 12 anos, os meninos podiam também participar, para acostumarem-se aos Mandamentos. Por isso, lá estava Jesus, juntamente com seus pais.

Um imprevisto -: na viagem de regresso, sucede um imprevisto: Jesus não parte com a caravana, mas permanece em Jerusalém. Os seus pais só percebem isso ao fim do primeiro dia de viagem, pois para eles era normal supor que o filho estivesse em qualquer parte da grande caravana, junto com parentes e amigos. Como, no entanto, os meninos deviam apresentar-se aos pais no começo da noite, se estivessem com outras pessoas durante a caminhada, esse fato explica porque a falta de Jesus só foi notada ao fim do dia. Para Maria e José, começaram momentos de aflição, uma vez que se certificou que Jesus não estava em lugar algum da caravana. Voltaram, pois, a Jerusalém. O evangelista conta que só depois de três dias de desesperada busca, encontraram Jesus no Templo, sentado no meio dos doutores da Lei, enquanto tanto os ouvia quanto os interrogava.

Os três dias podem ser explicados de forma muito concreta: Maria e José tinham caminhado com a caravana durante um dia; empregaram outro dia para regressar a Jerusalém e finalmente, no terceiro dia, encontraram Jesus. Os teólogos costumam discutir se esses três dias poderiam ser uma alusão aos três dias entre a Crucificação e a Ressurreição. São dias de sofrimento por causa da ausência de Jesus, dias cuja gravidade se sente nas palavras de Maria: “Meu filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai e eu, aflitos, te procurávamos!” (Lc 2, 48). Para Maria, algo daquela “espada de dor” mencionada por Simeão por ocasião da apresentação de Jesus aos oito dias começava a transparecer.

A resposta impressionante -: a resposta de Jesus à pergunta da mãe é incrível: “Como? Andastes à minha procura? Não sabíeis onde deve estar um filho? Não sabíeis que deve estar na casa do Pai?” (Lc 2, 49). Jesus diz aos pais: estou precisamente onde é o meu lugar, com o Pai em sua casa. Nesta resposta são importantes duas coisas:

1- Maria havia dito: “Teu pai e eu, aflitos, te procurávamos”. Jesus corrige: Eu estou com o Pai. Quis dizer: o meu pai não é José, mas sim outro, o próprio Deus. A Ele pertenço, com Ele estou. Porventura se pode exprimir de forma mais clara a filiação divina de Jesus?

2- Jesus fala de um dever, ao qual ele se apega. O filho, o menino, deve estar com o Pai. Esse “deve” tem valor já neste momento inicial: Jesus deve estar com o Pai, e assim, aquilo que poderia parecer desobediência ou liberdade em excesso, é, na realidade, a expressão de sua obediência ao verdadeiro Pai.

Como compreender tudo isso? -: Lucas descreve a reação de Maria e José às palavras de Jesus com duas afirmações: “Eles, porém, não compreenderam as palavras que Ele lhes dissera” e ainda “Sua mãe conservava a lembrança de todas essas coisas em seu coração” (Lc 2, 50 – 51). A palavra de Jesus é grande demais para o momento, e até para Maria, cuja fé ainda estava um tanto imatura em relação a Jesus e à sua missão. Maria não compreende bem as palavras de Jesus, mas as guarda em seu coração, onde lentamente vão amadurecendo. As palavras de Jesus, muitas e muitas vezes, são maiores que a nossa compreensão e superam sempre a nossa inteligência.

“Desceu com eles, então, para Nazaré e era-lhes submisso… E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 51 – 52). Depois do momento em que se demonstrou a obediência maior na qual devia viver, Jesus retorna à situação normal da sua família, na humildade de sua vida simples e na obediência aos seus pais terrenos.

As conclusões finais do episódio -: a resposta de Jesus aos pais aos 12 anos torna claro que ele conhece o Pai – Deus – a partir de dentro. Ele conhece Deus não a partir de pessoas que dão testemunho, mas reconhece Deus dentro de si mesmo. Jesus está com o Pai dentro de si, vendo os homens e as coisas na Sua luz. Mas também a sua sabedoria cresce. Isso prova que Ele aprendeu também nas várias fases de sua vida humana.

Com isso, torna-se evidente que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, como prega a fé de nossa Igreja.


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