Aula 05/2009 – OS POBRES POSSUEM A SABEDORIA DE DEUS
1ª. CARTA AOS CORÍNTIOS: OS POBRES POSSUEM A SABEDORIA DE DEUS (1, 1 a 4, 21)
Os pobres se tornam Igreja : Paulo afirma na abertura desta Carta que a comunidade de Corinto, na Grécia, é “igreja de Deus”. A comunidade de Corinto, cidade grande e muito importante na época, havia sido fundada por ele. Esta comunidade era formada por neo-cristãos de raças e classes sociais diferentes. Essas divisões deixaram de existir no momento em que se tornaram igreja de Cristo. Ensinando isso, Paulo diz: “Todos fomos batizados num só Espírito para sermos um só corpo, quer sejamos judeus ou gregos, quer escravos ou livres” (12, 13).
Em seguida, Paulo se dirige àqueles “que foram santificados em Jesus Cristo”, deixando claro que o centro da Igreja é Jesus e não ele, Paulo, ou algum outro dos agentes de pastoral que já existiam na época. Estimula a comunidade de Corinto a viver a santidade, explicando que em outros lugares do mundo conhecido da época existiam comunidades que procuravam viver o mesmo ideal.
Ao procurar colocar Jesus como Senhor de todos, Paulo explica que os membros da comunidade mais bem dotados de carismas não são, de forma alguma, os “donos” dos outros e muito menos melhores, tornando a assinalar que todos são apenas diferentes membros do corpo da Igreja e que a cabeça é Cristo.
Embora contasse com membros de todas as condições sociais, como já visto, os pobres e escravos de Corinto eram a grande maioria da comunidade. E Paulo estava convencido de que os pobres e marginalizados possuem a sabedoria que vem de Deus. Isso porque, enquanto a maioria dos cidadãos ricos e poderosos adorava ídolos, os pobres aceitaram a Jesus Cristo como sua única esperança. No trecho da Carta que está em 1, 4 – 7, Paulo deixa isso bem claro: “Sem cessar, dou graças a Deus por causa de vocês, que receberam a Graça de Deus por meio de Jesus Cristo. Pois é em Jesus que vocês receberam todas as riquezas, tanto da Palavra quanto do conhecimento. Na verdade, o testemunho de Cristo tornou-se firme em vocês, a tal ponto que não lhes falta nenhum dom”.
Na verdade, a comunidade de Corinto não era perfeita, como nenhuma o é. No entanto, Paulo descobre nela uma série de coisas boas, e dá graças a Deus por isso. Como diz o velho ditado, “Há quem o doce transforme em fel e quem do amargo tire mel…”.
Luzes e sombras: havia problemas na comunidade de Corinto e não somente luzes. Paulo sabia disso e após apontar o que havia de bom e dar graças a Deus por isso, ele procura atacar as divisões existentes. Escreve ele em 1, 10 – 13 um de seus parágrafos mais conhecidos:
“Eu lhes peço, irmãos, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo: mantenham-se de acordo uns com os outros, para que não haja divisões. (…) Fui informado que entre vocês existem brigas. É que uns dizem: ‘Eu sou de Apolo’ e outros ‘Eu sou de Pedro”. Outros ainda: ‘Eu sou de Paulo’. Será que Cristo está dividido? Será que eu, Paulo, é que fui crucificado por vocês? Ou será que vocês foram batizados em nome de Paulo?”.
Aí está a primeira sombra. Trata-se da divisão da comunidade em partidos a favor de um ou de outro missionário. Paulo havia fundado a comunidade, mas depois disso Pedro e Apolo haviam também passado por lá. Apolo era extremamente comunicativo, sabia pregar muito bem e convertia a muitos. Pedro havia convivido com Jesus e tinha a autoridade de líder dos Apóstolos. Isso os tornava, aos olhos da comunidade, em “chefes” que cada um escolhia para seguir, como se fossem de doutrinas diferentes. Isso, é claro, provocava brigas e divisões, levando à mesma desigualdade da sociedade que Cristo combateu.
A segunda sombra estava na busca pelo saber, pelo conhecimento. As elites de Corinto imaginavam os sábios como pessoas bonitas, livres, ricas e famosas. Alguns chegavam a afirmar que os sábios eram quase como filhos de Zeus (o maior de todos os deuses pagãos). Vendiam sabedoria, não precisavam trabalhar e viviam de privilégios. Ora, quem, na comunidade cristã de Corinto, chegaria a ser sábio segundo esses critérios? Ninguém! Por isso muitos cristãos começavam a murmurar se a pregação cristã baseada no sacrifício da cruz não seria “ uma loucura”.
Paulo acha tudo isso muito estranho, pois para ele a sabedoria é o sentido da vida que Deus pôs em toda a criação. Todos tem acesso a essa sabedoria, independente de inteligência ou de cultura. E diz o seguinte:
“A linguagem da cruz é loucura para aqueles que se perdem. Mas para nós, que nos salvamos, é poder de Deus. Pois as Escrituras dizem: ‘Destruirei a sabedoria dos sábios e rejeitarei a inteligência dos inteligentes’. Por isso, através da loucura que pregamos, Deus quis salvar aqueles que acreditam. Os judeus pedem sinais e os gregos procuram a sabedoria; nós, porém, anunciamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos. Mas, para os que são chamados, tanto judeus quanto gregos, Cristo é o Messias, poder e sabedoria de Deus. A loucura de Deus é mais sábia do que os homens e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1, 18 – 25).
Com isso, Paulo mostra que os valores cristãos não são os dos homens, e os caminhos de Deus não são os nossos caminhos.