Aula 05/09/16 – A Morte Cristã
A MORTE CRISTÃ
05/Setembro/2016
A visão material da morte -: o nosso corpo material não é eterno. A nossa vida é programada para ter um começo, um desenvolvimento, um período ativo, uma velhice e, em seguida, a morte. Esse é o processo natural ao qual estamos todos os sujeitos. Pensando de um modo simplesmente humano, todos nós temos medo de morrer, embora saibamos que um dia ou outro, isso acontecerá. No entanto, se olharmos para o lado cristão de enfrentar a morte, poderá ter uma visão diferente e poderemos aceitar melhor esse fim inevitável. É o que veremos a seguir.
O que diz a Igreja? -: o Catecismo da Igreja Católica diz que cada homem recebe em sua alma imortal a retribuição eterna a partir do momento da morte, num Juízo Particular que coloca a sua vida em relação à vida de Cristo, seja através de uma necessária purificação, seja para entrar de imediato na felicidade do paraíso, ou seja, para sofrer, também de imediato, uma condenação eterna.
Colocar a vida em relação à vida de Jesus significa, em outras palavras, comparar a nossa vida com a Dele. Se olharmos simplesmente para o que quer dizer isso, podemos pensar que estamos todos condenados, pois nós, pecadores, jamais poderemos colocar nossa vida humana em comparação à vida de Cristo. Mas não é bem assim. Deus conhece a nossa alma e a nossa humanidade, e conhece também as nossas intenções mais íntimas. Por isso, o caminho da Salvação é a conversão do coração e a confiança na misericórdia e na bondade de Deus. Notemos que a confiança na misericórdia de Deus repousa em muito na nossa conversão.
A morte -: um trecho da Gaudium et Spes (Alegria e Esperança) nos diz o seguinte, em relação à morte: “É diante da morte que o enigma da condição humana atinge seu ponto mais alto” (GS 18). Em certo sentido, a morte corporal é natural, mas para a fé ela é, na realidade, aquilo que nos diz São Paulo Apóstolo: o salário do pecado (Rm 6, 23). Mas para aqueles que morrem na graça de Cristo, é uma participação na morte de Jesus, para podermos participar também de sua Ressurreição.
Como a morte é o fim natural de nossa vida, isso confere um aspecto de urgência a ela, e precisamos recordar que temos somente um tempo limitado para realizar nossa escolha: ou a graça de Deus ou o pecado do demônio. E isso se torna ainda mais urgente se recordarmos as palavras de Jesus: “Fiquem atentos e vigiem. Porque vocês não sabem quando será o momento.” (Mc 13, 33).
O Magistério da Igreja ensina que a morte entrou no mundo por causa do pecado do homem. Deus, no princípio, destinava o homem a não morrer. Portanto, a morte corporal, à qual o ser humano seria subtraído se não tivesse pecado, é “o último inimigo a ser vencido” (1Cor, 15, 26).
Jesus sofreu também Ele, a morte, própria da condição humana. Todavia, apesar de também sofrer diante da idéia da morte, assumiu-a como um ato de submissão à vontade de Deus. Diz o Catecismo da Igreja Católica que a obediência de Jesus à vontade de seu Pai transformou a maldição da morte em uma bênção.
O sentido da morte cristã -: graças a Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo. “Para mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro” (Fl 1, 21). A novidade essencial da morte cristã está nisto: pelo batismo, o cristão já está “morto com Cristo”, para viver uma vida nova, e se morrermos na graça de Cristo, estamos garantidos na sua Ressurreição. Depende de nós.
Na morte, Deus chama o ser humano a si. É por isso que o cristão pode sentir, em relação à morte, um desejo semelhante ao de São Paulo Apóstolo: “o meu desejo é partir e ir estar com Cristo” (Fl 1, 23), e pode transformar a própria morte em um ato de obediência e de amor para com o Pai, a exemplo de Jesus. E ninguém foi mais positiva que Santa Teresinha do Menino Jesus, que declarou simplesmente: “Quero ver a Deus, e para Vê-lo, é preciso morrer” (Vida 1). E declarou também: “Eu não morro, entro na vida”.
A visão cristã da morte é deixada bem clara na Liturgia da Igreja: “Senhor, para os que creem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, no céu, um corpo imperecível”.
Resumindo -: a morte é o fim da peregrinação terrestre do ser humano, do tempo de graça e misericórdia que Deus lhe oferece para realizar sua vida segundo o projeto divino, e para decidir seu destino final. Quando tiver terminado esse tempo, não voltaremos mais a outras vidas terrestres, pois os homens devem morrer uma só vez (Hb 9, 27). Não existe “reencarnação” depois da morte. O conceito espírita desta “reencarnação” diz que ela se dá porque as vidas terrestres sucessivas nos permitem purificar-nos dos pecados cometidos anteriormente. Mas como nos purificarmos desses pecados, se nada recordamos das presumidas vidas anteriores?
A Igreja nos encoraja à preparação da hora de nossa morte, a pedir à Mãe de Deus que interceda por nós “na hora de nossa morte” e a entregar-nos a São José, o padroeiro da boa morte.
“Em todas as tuas ações, em todos os teus pensamentos, deverias comportar-te como se tivesses que morrer hoje. Se a tua consciência estivesse em bom estado, não terias muito medo da morte. Seria melhor evitar o pecado que fugir da morte. Se não estás preparado hoje, como o estarás amanhã?” (Imitação de Cristo, 1,23,1).