Aula 03/10/16 – O Purgatório


O PURGATÓRIO

03/Outubro/2016

Os dois juízos -: como já foi visto, após a morte do corpo, a alma do ser humano irá enfrentar dois juízos. O primeiro juízo a ser enfrentado será o juízo particular, que irá colocar a sua vida em relação à vida de Jesus Cristo, onde então a alma imortal irá conhecer o seu destino final. O segundo juízo será o juízo final, no dia da Parusia (ou segunda vinda de Cristo ao mundo), quando então todos ressuscitarão em corpo (modificado) e alma, e receberão o destino merecido, seja para a entrada no céu, seja para uma purificação ou, infelizmente, para uma condenação eterna.

A purificação final -: aqueles que morrem na Graça de Deus, mas necessitando ainda de uma melhor condição de purificação, embora tenham garantidas a sua salvação eterna, irão passar, após sua morte, por um processo de purificação, a fim de obterem o grau de perfeição necessário para a admissão à Casa do Pai.

Esta purificação final desses eleitos é denominada pela Igreja de Purgatório (purgar significa pagar as dívidas, expiar os pecados, neste caso). Esta purificação final é, entretanto, completamente distinta do castigo dos condenados. O conceito que formulou a doutrina do Purgatório foi estabelecido pela Igreja nos Concílios de Florença e de Trento, ainda na antiguidade. Fazendo referência a certos trechos das Escrituras, a Tradição da Igreja fala de um “fogo” purificador:

“No que concerne a certas faltas leves, deve-se crer que existe, antes do juízo, um fogo purificador, segundo o que afirma aquele que é a Verdade (Jesus Cristo), dizendo que se alguém tiver pronunciado uma blasfêmia contra o Espírito Santo, não lhe será perdoada nem no presente século, nem no século futuro (Mt 12, 31). Desta afirmação, podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que outras, no século futuro” (S. Gregório Magno, Diál., 4, 39).

Como se dá esta purificação, é impossível prever. A Eternidade não segue as nossas regras materiais, não havendo, portanto, os conceitos que temos nesta vida de tempo, matéria ou espaço. Quando Jesus, em diversas passagens dos Evangelhos, se refere ao “fogo” que irá queimar os condenados, ou purificar os que necessitam de purificação para se salvarem, Ele está usando uma figura de linguagem para que nós, humanos, tenhamos uma noção daquilo que virá. Não significa “fogo” no sentido material, mas algo que servirá para essa purificação. Como isso irá suceder, só o saberemos se tivermos a graça de não sermos condenados.

Outro conceito a ser desbancado -: também é preciso levar em conta outro conceito material que carregamos no inconsciente, que é o conceito de tempo. O tempo não existe na eternidade, já que esta não tem começo nem fim. Não tem sentido, portanto, perguntar “por quanto tempo pode durar a purificação, a estada no purgatório?”. Essa purificação é um estado, não um tempo. É difícil de entender? Sim, muito. Por isso, temos necessidade da fé. A fé preenche os vazios, as lacunas que os mistérios de Deus deixam em nós, desde que há coisas que não nos foram reveladas, porque não temos capacidade de compreendê-las.

Mais um apoio para a doutrina do Purgatório -: a doutrina do Purgatório apoia-se também na prática da oração pelos falecidos, da qual fala a Sagrada Escritura: “Eis porque ele (Judas Macabeu) mandou oferecer este sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos de seus pecados” (2Mac 12, 46). Desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos falecidos e ofereceu sufrágios em seu favor, em especial o sacrifício eucarístico, a fim de que, purificados de seus pecados, eles possam chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras de penitência em favor dos defuntos.

São João Crisóstomo, em uma de suas homilias, abordando o tema, disse o seguinte: “Levemos-lhes socorro e celebremos a sua memória. Se os filhos de Jó foram purificados pelo sacrifício de seu pai, por que duvidar que as nossas oferendas em favor dos mortos lhes leva alguma consolação? Não hesitemos em socorrer aos que partiram e em oferecer as nossas orações por eles”.

Como se vê, o Purgatório não é, ao contrário do que muitos pensam, uma “invenção” da Igreja Católica. O conceito do Purgatório é uma realidade baseada na Sagrada Escritura e nas palavras do próprio Jesus. Rezemos como pede São João Crisóstomo, pelas almas dos que se foram e esperemos que rezem também por nós um dia, se lá conseguirmos chegar.


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