Aula 02/05/16 – Em Quem Colocar A Fé
EM QUEM COLOCAR A FÉ
02/Maio/2016
Crer em Deus -: o ato de crer em Deus chama-se Fé. A fé é primeiramente uma adesão pessoal do homem a Deus, mas é, ao mesmo tempo, um consentimento livre a toda verdade que Deus revelou. Por isso, a fé cristã é diferente da fé em pessoas ou coisas humanas, ou seja, a palavra é a mesma, mas o significado não. É justo e bom crer totalmente em Deus, diz a Escritura. Seria falso e em vão colocar tal tipo de fé em uma criatura.
Crer em Jesus Cristo -: para o cristão, crer em Deus é crer, inseparavelmente, naquele que ele enviou “seu Filho bem-amado”, no qual Ele pôs “toda a sua complacência” (Mc 1, 11). Deus nos pediu que o escutássemos. O próprio Jesus disse aos seus discípulos: “Crede em Deus, crede também em Mim” (Jo 14, 1). Podemos e devemos crer em Jesus Cristo porque Ele mesmo é Deus, o Verbo Divino feito carne. “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho unigênito, que está voltado para o seio do Pai, este o deu a conhecer” (Jo 1, 18). Por ter Jesus “visto o Pai” (Jo 6, 46), ele é o único que o conhece e pode revelá-lo.
Crer no Espírito Santo -: não se pode crer em Jesus Cristo sem participar do seu Espírito. É o Espírito Santo que revela aos homens quem é Jesus, pois “ninguém pode dizer: ´Jesus Cristo é o Senhor’ a não ser pelo Espírito Santo” (1Cor 12, 3). O apóstolo Paulo, profundamente inspirado em sua vida por esse mesmo Espírito, disse que “O Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as profundidades de Deus… o que está em Deus ninguém conhece, a não ser o Espírito de Deus” (1Cor 2, 10-11). Só Deus conhece a Deus por inteiro. Cremos no Espírito Santo porque ele é Deus. A Igreja não cessa de confessar a sua fé em um só Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.
A fé é uma graça -: quando Pedro confessa que Jesus é o Cristo, o filho do Deus vivo, Jesus declara que esta revelação não veio “da carne e do sangue, mas do meu Pai que está nos céus” (Mt 16, 17). A fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural por Ele infundida. Cabe ao homem cultivar esta fé como se cultiva uma planta delicada, que requer muitos cuidados e muita atenção. Ninguém “perde a fé”, apenas muitos a desprezam ou esquecem e a deixam de lado em suas vidas.
A fé é um ato humano -: crer só é possível pela graça e através do Espírito Santo. Mas crer é também um ato humano. Não contraria nem à liberdade nem à inteligência do homem confiar em Deus e aderir às verdades por Ele reveladas. Se, no campo das relações humanas, não é contrário à nossa própria liberdade crer no que outras pessoas nos dizem e confiar nas suas promessas (como, por exemplo, quando um homem e uma mulher se casam), é ainda menos contrário à nossa dignidade crer em Deus e entrar assim em comunhão íntima com Ele.
A fé e a inteligência -: o motivo de crer não é o fato de as verdades reveladas por Deus parecerem como boas e verdadeiras para nossa razão. Há muitas verdades humanas que são boas e verdadeiras, e nas quais nós temos fé, mas não são reveladas por Deus. Todavia, Deus quis que a revelação da fé através do Espírito Santo fosse acompanhada das provas exteriores. Por isso, aconteceram os milagres de Jesus Cristo e dos santos, as profecias, a propagação da Igreja pelo mundo. A fé é certa, mais certa do que qualquer conhecimento humano, porque se fundamenta na própria Palavra de Deus, que não pode mentir.
A liberdade da fé -: o homem deve responder a Deus por sua livre vontade. Logo, ninguém deve ser forçado a abraçar a fé contra a sua vontade, pois o ato de fé é voluntário. Jesus Cristo veio ao mundo e convidou todos a abraçarem a fé, mas de modo nenhum obrigou alguém a isso. Deu testemunho da verdade, mas não quis impô-la pela força aos que a ela resistiam. “E se alguém não vos receber, ao sair da respectiva cidade, sacudi a poeira dos vossos pés, como protesto contra eles” (Lc 9, 5). O Reino de Deus pregado por Jesus se estendeu não através da força, mas através do amor.
A necessidade e a perseverança da fé -: é necessário, para obter a salvação, crer em Jesus Cristo e naquele que o enviou. Como, porém, sem fé é impossível chegar a Deus, ninguém jamais pode ser justificado sem a fé, nem conseguir a vida eterna, “mas aquele que nela perseverar será salvo” (Mt 24, 13).
A fé é, portanto, um dom gratuito que Deus dá ao homem. Mas esse dom, se não cultivado, pode vir a faltar. São Paulo escreve o seguinte: “Combate… o bom combate, com fé e boa consciência, pois alguns, rejeitando a boa consciência, vieram a naufragar na fé” (1Tm 1, 18 – 19). Para viver e perseverar na fé, é necessário alimentá-la pela Palavra de Deus, deve-se implorar ao Senhor que a aumente. Por isso, é preciso permanecer nas três virtudes teologais: a nossa fé deve estar enraizado na fé da Igreja, ser alimentada pela esperança e agir conforme a caridade.
A fé é o começo da vida eterna -: a fé permite que, ainda neste mundo, o cristão sinta por antecipação a luz e a alegria de uma antevisão de Deus, que é a meta da caminhada nesta terra. O cristão que cultivou a sua fé de maneira sensata, verá a Deus “face a face” (1 Cor 13, 12), “tal como Ele é” (1Jo, 3, 2). A fé é, portanto, o começo da vida eterna. Por agora, entretanto, “caminhamos pela fé, não pela visão” (2Cor 5, 7), e conhecemos a Deus “como em um espelho, de uma forma confusa … imperfeita” (1Cor 13, 12).
A fé pode ser posta à prova. O mundo em que vivemos, muitas vezes, parece estar bem longe daquilo que a fé nos assegura. As experiências do mal e do sofrimento, das injustiças e da morte, parecem contradizer a mensagem do Evangelho e podem abalar a fé. É então que se deve apelar para as testemunhas da fé. E a maior testemunha da fé é a Virgem Maria, que, na sua peregrinação pela fé nesta vida, foi até à “noite da fé”, comungando com o sofrimento de seu Filho, conforme nos alertou São João Paulo II. Há uma verdadeira “nuvem” de testemunhas da fé durante estes mais de dois mil anos da revelação do Evangelho, e com essa nuvem, “corramos com perseverança para o certame que nos é proposto, com os olhos fixos naquele que é o autor e o realizador da fé, Jesus” (Hb 12, 2).