O sentido da cruz para os cristãos
Padre Domenico Borrotti
A cruz é o ponto de referência para os cristãos que optaram por viver os valores do Evangelho. Muitos tornaram-se santos porque, embora possuindo fraquezas e falhas, aprenderam a contemplar a cruz, vendo nela a manifestação concreta do amor de Deus pelos homens e, a partir dessa reflexão, pautaram suas vidas pelas palavras de Jesus crucificado e ressuscitado.
E essa espiritualidade, que marcou a vida dos nosso santos, deve ser também a luz que nos mostra o caminho a trilhar na vivência dos valores do Reino de Deus. Somos pecadores, mas Deus nos convida à conversão. Sem conversão, não nos tornamos discípulos de Jesus.
Deus sabia que o ser humano se tornou orgulhoso e dissoluto, agressivo, violento e competitivo. Por isso o coração humano endurecido só pôde ser vencido pela sua vítima, que morreu perdoando a seus algozes. Foi necessário que Jesus Cristo fosse até a cruz, para nos dar consciência de que somos crucificadores e deturpadores, não só da verdade que vem de Deus, mas também de nós mesmos e dos outros. É evidente que esta consideração não esgota o sentido profundo que a Cruz de Cristo tem, mas explica alguns aspectos, especialmente em relação ao amor que Deus tem para com o ser humano e também em relação à necessidade que o ser humano tem de mudar, de converter-se, se quer o seu bem e a sua salvação.
Deus esperava que, olhando “aquele a quem transpassaram” (e que se deixou transpassar para ser fiel à verdade e ao amor até as últimas conseqüências), os homens entendessem que estavam errados e que precisavam de conversão para a vida verdadeira que o Cristo testemunhou e pregou a todos. O que Deus não teve coragem de pedir a Abrão pediu a si mesmo, deixando sacrificar o seu próprio filho. Deus não sacrifica o ser humano pecador, mas sacrifica o seu Filho para que o ser humano pecador se salve. Quem enxergou isso, junto à cruz, foi o centurião romano, que depois de ter comandado a tropa que executou Jesus, vendo-o morrer, perdoando àqueles que o estavam matando, exclamou: “Este de verdade é o Filho de Deus.” (Mt. 25,54; Mc.15,39 ) Reconheceu, assim, o seu erro, e o erro das autoridades, dos sacerdotes, de toda a sociedade. Certamente aquele centurião voltou para casa desejando mudar a sua vida.
O Cristo morto na cruz está fora da cidade, não o julgaram digno de morrer na cidade como os cidadãos romanos. Está fora como os excluídos, especialmente como os escravos e os leprosos. A sociedade daquele tempo matou Jesus, mas o pecado de todos é o grande responsável por sua morte. Entretanto Deus o ressuscitou, dizendo-nos, assim, que Ele estava certo e o ser humano está errado. Sua morte e ressurreição nos revelam que o desvio do ser humano, por maior que seja, é inferior ao amor de Deus para com a humanidade.
A vontade de Deus é salvar a todos a qualquer preço, mesmo que custe a morte de seu Filho. É uma entrega livre e gratuita. Por isso, se somos cristãos, não é porque somos mais bonzinhos que os outros, mas simplesmente porque o amor de Deus chegou a nós por sua iniciativa gratuita, e não por mérito nosso.
Deus é um pai verdadeiro, sempre preocupado com seus filhos. Cada vez que eles tropeçam e caem, mais Deus se preocupa com eles. Mas a misericórdia de Deus espera uma resposta do homem que é chamado a arrepender-se e converter-se ao que é bom, belo, justo e verdadeiro. O homem é chamado a converter-se, para que volte ao amor e à verdade, para que recupere o coração e volte a viver com a dignidade de filho amado de Deus.
Padre Domenico Borrotti, missionário xaveriano,
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria, em Piracicaba